O trail levou-nos a Portalegre, ao Ultra Trail de São Mamede, para mais uma das etapas do circuito nacional de trail organizado pela ATRP (Associação de Trail Running de Portugal), durante o fim de semana 1300 atletas participaram em três provas:
- 100 kms (D+3500M) – UTSM - partida às 0h00 de Sábado de Portalegre
· Prova a contar para o Circuito Nacional de Ultra Trail;
· Prova de apuramento do Campeão de Portugal de Ultra Trail;
· Prova qualificativa para o Ultra Trail du Mont-Blanc;
- 42 kms – TLSM - partida às 09h00 de Sábado da vila de Marvão;
- 25 kms – TCSM - partida às 10h00 de Sábado da vila de Castelo de Vide;
O Clube Millenniumbcp esteve presente com 10 atletas, todos na prova de 100 kms. Vou tentar relatar o que foi para mim essa prova, tentar porque tudo o que diga ou escreva nunca vai conseguir transmitir a totalidade do que senti durante o UTSM…
Na partida estiveram cerca de 700 “trailers” (de várias nacionalidades) para fazer 100 kms numa das regiões mais bonitas do país, o Parque Natural da Serra de São Mamede. A organização decidiu (e muito bem!) criar um espaço de convívio na zona da partida, um estádio de futebol com pista de tartan: muito bom ambiente! A ideia de fazerem um concerto até perto da hora da partida foi excelente!
Foi a primeira vez que fiz uma prova de 100 kms (na realidade 102,5 kms)…portanto, para mim, tudo era novidade…e acreditem, o primeiro km de uma prova desta distância é completamente diferente do km inicial de uma de 25…
Só a partida à meia-noite muda logo tudo: vermos cerca de 700 almas de frontal na cabeça a evoluir pelos montes alentejanos é de uma beleza fantástica…quase que nos esquecemos que vamos lá no meio, mas vamos, e é para isso que aqui estamos e treinámos.
Esta era uma prova que eu queria muito fazer pela aventura em si, por ser natural de Portalegre e pelo prazer de testar limites; mas que quase acabava nas subidas ao Parque Eólico por um erro de “menino”. Eu que sempre aconselho toda a gente a alimentar-se e a hidratar-se bem, cometi a proeza de não me “reforçar” antes das subiditas - cerca de 14kms a subir dos 400m até à altitude de 1025m, com percentagens de inclinação bastante elevadas! Lá consegui colar-me ao Veloso que passou por mim e rebocou até às Antenas, no alto de São Mamede.
No PAC (zona de assistência) das Antenas acabei por alimentar-me bem e voltar novamente à minha estratégia alimentar (estamos com 30kms) - ficou o aviso para o futuro - aí encontrámos mais alguns elementos da equipa e fomos em ”formação cerrada” o que me ajudou bastante, pois foi uma excelente forma de avançar e recuperar o ritmo. Fomos assim até São Julião (40kms), com um excelente andamento, acreditem que naquelas encostas deixámos marca!
Nas subidas após São Julião, senti-me extremamente bem (a alimentação em mim faz toda a diferença!) - subo sempre a um bom ritmo e a puxar. Temos uma visão fantástica de Marvão e de Espanha. Alguns de nós vêm com um ritmo mais forte e até ao Porto de Espada acabamos por nos dispersar, reencontramo-nos no PAC do Porto da Espada já com as bifanas à frente. Estamos com 50 kms.
Do Porto de Espada até Marvão temos algumas descidas e depois atacamos a subida até à vila. Sinto-me muito bem a subir e vou passando outros concorrentes! Subimos pela calçada medieval da Abegoa, que nos leva até perto da muralha, mas depois descemos e subimos e descemos e subimos e descemos e subimos…e lá acabamos por entrar no castelo pela Porta de Ródão. Km 60. Marvão é a zona de assistência onde se encontram os nossos sacos para as mudas de roupa e afins, sacos que previamente tínhamos entregue na zona de partida e que a organização transportou. Reponho a comida, aligeiro o equipamento porque íamos ter tempo quente pela frente, retiro da mochila de prova coisas que não vou necessitar, ponho protetor e estou pronto para partir sem perder muito tempo. Não me preocupo minimamente com os pés – tenho outro par de sapatos no saco e vários pares de meias, mas não achei necessário fazer a mudança pois sentia-me bem, sem qualquer dor ou desconforto, mais tarde irei pagar caro esse erro, foi uma lição dura! Como uma sopa, umas frutas frescas e uns frutos secos. Estou bem fisicamente e não me sinto cansado, arranco.
Descemos pela calçada medieval que vai ter à Portagem e seguimos para as Carreiras, pelo meio molhamos o pé no Sever e atravessamos um campo de golfe que se encontra ao abandono (uma pena…). Fazemos uma boa parte da subida para as Carreiras no alcatrão, aqui começo a ter os primeiros sinais que algo não está bem com os pés…continuo e acabo por colar a dois atletas. Eu e outro dos atletas acabamos por ir juntos até às Carreiras. Quando cheguei à aldeia levava um desconforto muito grande, mas tolerável. 70 kms.
A partir daqui mudou tudo! As dores foram aumentando e o desconforto era cada vez maior, e tornou-se quase impossível correr (eu com o problemas nos pés e o outro atleta com um problema no joelho). Mesmo a “andar” conseguimos imprimir um ritmo sempre forte e começámos a gerir os esforços como uma equipa para chegar ao fim. O calor foi aumentado gradualmente.
Em Castelo de Vide descansámos um pouco mais. Mais uma vez chegámos lá através de uma calçada medieval, andámos por rochas de granito, descemos por cordas…com o calor e com os pés “cozidos”, podem imaginar! No PAC nem quis tirar os sapatos com receio de já não os conseguir calçar. Cerca de 80kms.
Vamos na direção do Convento da Provença, nesta altura eu mal consigo apoiar os pés no chão, acabo por ter de parar e tirar os sapatos; os pés estão uma lástima…mudo para umas meias curtas e secas que trazia na mochila e continuamos. Não melhorou quase nada. A cerca de 2 kms do PAC peço ao outro atleta para seguir sozinho, eu só ia a atrasá-lo – quase tive de lhe atirar pedras para ele se ir embora…obrigado! – e prometi-lhe que não desistia. No meio disto tudo mudo o chip, esqueço os tempos de prova e oriento-me pelo Sol, só queria chegar antes do pôr-do –Sol! A energia que a Lua cheia me deu à noite teria que durar para chegar antes do Sol se pôr. Acabei por me arrastar até ao Convento da Provença onde estava o penúltimo PAC…90kms. Recebo tratamento médico – os massagistas/enfermeiros de uma das equipas da frente estavam lá para acompanhar os últimos atletas deles…ajudam-me. Limpam o melhor que podem a planta dos pés e enfaixam-nas de forma a tornar o mais confortável possível os kms que me faltam até à meta. Demoro tempo. Como pizza. Aqui acabo por encontrar uma atleta que conheço e que também vinha com problemas nos pés desde Marvão, pelo menos…
Eu e essa atleta partimos juntos em direção à Serra da Penha…ela é um poço de energia condensado em meio palmo de mulher! Sigo com ela até perto das rochas que suportam a cruz, depois peço-lhe para seguir sozinha para eu não a atrasar. Lá chego ao PAC da Penha. Mais uma vez demoro na assistência. Desço as escadas, 270, uma a uma, muito lentamente, cada vez que pouso o pé parece que a sola entra pela carne adentro. Acabo por me arrastar durante 5kms até ao estádio onde consigo cortar a meta ainda com o Sol no céu, tinha conseguido o único objetivo a que podia almejar depois do que me aconteceu…para além de terminar a prova!!! – todos os que passaram por mim nesta parte final do trajeto tentaram rebocar-me no bom espírito do trail…
Em jeito de conclusão, esta foi uma prova bastante difícil! Muito dura! Pela distância, pelas subidas, pelo calor, foi uma prova de superação! Dos 702 concorrentes que iniciaram a prova apenas 430 terminaram, entre eles estavam todos os “Millennium” - como várias vezes ouvi às pessoas que nos apoiaram e aplaudiram por onde passámos, sempre com um “força” ou “vai” antes do nome.
Como prémio “finisher” recebemos uma medalha de cortiça (uma matéria prima muito comum e importante na região) alusiva ao feito…100 km!! A minha primeira três dígitos!
Aos meus companheiros de jornada, iria já amanhã fazer outra prova com vocês!
Os meus parabéns, juntos fomos fortes!
Um abraço a todos!
Pedro Cordas
Altimetria da prova:
As classificações foram as seguintes:
189 | Miguel Cruz | 17:39:27 |
234 | Fernando Rodrigues | 18:42:39 |
276 | Pedro Cordas | 19:40:44 |
302 | Eduardo Rodrigues | 19:59:18 |
303 | Pedro Neves | 19:59:25 |
304 | Helder Baptista | 20:00:06 |
339 | José Farinha | 20:40:42 |
340 | António Veloso | 20:40:48 |
341 | Rui Ramalho | 20:40:49 |
384 | Sandro Jordão | 22:03:35 |
Fotos e vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=8SOtLS5PvxU
https://picasaweb.google.com/112783433689578180526/TrailDeSaoMamede118DeMaioDe2014?authuser=0&authkey=Gv1sRgCLXJ2szlu--wiAE&feat=directlink
https://picasaweb.google.com/112783433689578180526/TrailDePortalegre218DeMaioDe2014?authuser=0&authkey=Gv1sRgCImL-rPnneG9vAE&feat=directlink
https://plus.google.com/photos/109215449995288364783/albums/6014691346297986113#photos/109215449995288364783/albums/6014691346297986113
Relato Sandro Jordão
Portalegre, 17 de Maio de 2014, 00:00. Lua cheia. 570 corajosos na linha de partida. Entre eles muitos amigos. Das Caldas e arredores vieram os primos Paulo e Rui Santos, o Ricardo Diez, o Zé Duarte, os manos Serrazina, o Luís Nunes, o Marcus, o Telmo, o Cadima, o Carlos Alegre e o Hugo Barqueiro. Do Clube Millennium BCP uma equipa de luxo composta pelo Pedro Cordas, o Alcides, o Miguel, o Veloso, o Hélder, o Rui Ramalho, o Eduardo Rodrigues, o Pedro Neves e o Farinha, a que se juntaram o João Figueiredo. Escusado será dizer que TODOS terminaram a prova, o que representa mais um grande resultado para o Clube Millennium BCP.
A adrenalina de ir correr cento e picos quilómetros por
caminhos, trilhos e estradas do Parque Natural da Serra de São Mamede, com passagem
por Marvão e Castelo de Vide, impede que o sono se manifeste em mais do que 2
ou 3 bocejos passageiros, pese embora não ter dormido nada durante a
tarde/noite. O concerto que está a decorrer (uma competente banda de covers de
Pink Floyd) também ajuda. Por esta altura nem nas minhas piores previsões
poderia supor que só passadas 22 horas é que voltaria a pisar o tartan da pista
do Estádio dos Assentos mas… vamos por partes.
Começo lento até ao Reguengo no meio de um pelotão compacto
que avança aos soluços por entre passagens estreitas e cursos de água. Está
muita poeira no ar e uma temperatura elevada para a hora, cerca de 16 graus. No
primeiro abastecimento bebo um café, como uma boleima e sigo com o Paulo Santos
rumo ao Alegrete. Começo a sentir azia mas uma pastilha resolve o problema de
imediato. É agora possível rolar um pouco mais e acelero encontrando pela 1.ª
vez o pessoal do Clube Millennium que se vinha agrupando sob a liderança do Rui
Ramalho. Vem aí a subida até ao alto de São Mamede cujo topo (1.015 metros de
altitude) atingimos um pouco antes das 05:00. 30K já estavam e sentia-me bem
tendo seguido com o Miguel e o Hélder até São Julião. Avistámos um atleta no
chão enrolado na manta térmica (um item indispensável pois nunca sabemos quando
é que nos pode calhar um azar semelhante) e certificámos-nos que ficava bem
antes de continuar. Foi apenas um entre 157 participantes que acabaram por ter desistir
o que atesta bem a dureza do percurso. Entretanto esfriara um pouco (finalmente!)
mas seria sol de pouca dura até porque o astro em causa nasceu precisamente na
chegada ao abastecimento, eram 06:15. Pela primeira vez senti necessidade de me
sentar (a partir daqui aconteceria em todos os abastecimentos) e ao invés de
seguir com o Miguel (que nunca mais veria) e o Hélder (que viríamos a
incorporar no pelotão passado um pouco pois abrandara devido ao sono) optei por
descansar e aguardar pela chegada do resto da equipa. Fomos em bom ritmo até ao
Porto da Espada onde nos mimaram com bifanas. Foi uma etapa desportiva mas
também cultural pois o Pedro Cordas, natural da zona, foi-nos contando tudo
sobre as paisagens que nos rodeavam, obrigado. 50K já estavam mas o próximo
objetivo era ambicioso: chegar a Marvão numa altura em que o calor começava a
apertar. É por esta altura que encontramos a Mafalda Faria, ainda com muita energia
e boa disposição. Não sei se foi da bifana mas voltei a acelerar nesta fase. A
fuga ainda durou meia dúzia de quilómetros mas aos poucos fui baixando o ritmo.
O Pedro foi o primeiro a passar-me e foi a custo que consegui acompanhar o
Eduardo e o Alcides na interminável subida ao castelo. Foram muitas as vezes em
que estando a centímetros da muralha voltávamos a descer para depois realizar
nova subida mas lá entramos finalmente no castelo pela Porta de Rodão.
61K em pouco mais de 10 horas era um feito mas o cansaço
acumulado já era mais do que o desejado pelo que o pior estava mesmo para vir.
Em Marvão tivemos a possibilidade de trocar de roupa e foi o que fiz (chapéu, t-shirt,
meias e sapatilhas). Descansei. Coloquei protetor solar e vaselina. Descansei.
Comi uma sopa e batatas fritas. Descansei. E com isto foram mais de 40 minutos
parado! Os 10km seguintes trouxeram uma descida em calçada romana até Portagem que
deu cabo do que restava dos meus pés e começaram a formar-se bolhas em
catadupa. O calor intenso (32 graus) propiciou o surgimento das primeiras
assaduras. Não valeu de nada a troca de sapatilhas e se pudesse voltar atrás
não trocava.
Se até ao abastecimento em Carreiras já caminhava muito mais
do que corria a partir daí não mais voltei a correr. Foram 9 longas horas para
fazer pouco mais de 30K em que fui ultrapassado por dezenas de atletas,
nomeadamente o Telmo (que ia muito bem) isto já depois de termos passado perto
de Castelo de Vide (a chegada ao abastecimento entre rochas e com recurso a
cordas foi penoso). Aos 83K, quando já estava a desidratar num abastecimento
intermédio, fui “rebocado” pelo Paulo Santos que solidariamente caminhou comigo
quase até aos 90K, obrigado. Tive de lhe prometer que não desistia e lá foi
ele, tendo chegado à meta à hora de jantar. Entretanto acabou a bateria do
relógio GPS. Também já tinha perdido a cábula com a distância e altimetria do
percurso. Paciência, para a frente é que era caminho, mesmo que fosse a 3
quilómetros por hora. No abastecimento do Convento da Provença, onde comi
pizza, fui apanhado pelo último grupo do Clube Millennium composto pelo Rui
Ramalho, o Farinha e o Veloso e ainda tentei seguir com eles mas mesmo estando
eles também a caminhar como eu a diferença na passada era brutal e rapidamente
os perdi de vista. Algum alcatrão depois e após muitas deambulações pela Serra
da Penha chego ainda de dia ao último abastecimento (Ermida da Penha). Está lá
alguém deitado no chão e enroscado numa manta naquilo que parecia ser uma bela
soneca. Aproximei-me e era o Telmo mas não estava a dormir, estava era a ver se
conseguia recuperar de uma indisposição que trazia à vários quilómetros atrás.
Não aguentava nada no estomago. Queria vir comigo mas não conseguia, só
vomitava. Eu só por ver comecei também a ficar mal disposto e quase tive uma
quebra de tensão. Benditos pacotes de açúcar que trago sempre comigo. Desistir
é dificílimo (eu nunca consegui tomar essa decisão e já tive ocasiões em seria
sem dúvida o mais acertado a fazer) ainda mais quando já se percorreram quase
100K pelo que compreendi perfeitamente a relutância do Telmo mas no fim lá o
convencemos, eu e o pessoal da organização, a tomar a penosa mas sem dúvida
acertada decisão. Passam 2 minutos das 20:00 e continuo. Seguiram-se 270
degraus de escadas e um interminável percurso de alcatrão. Recebo várias
chamadas de amigos que estranharam ainda não ter chegado mas descansei-os.
Ei-de cortar a meta nem que seja às 23:59. Cai a noite e recoloco o frontal. No
chão leio indicações de que faltam 4K. Depois 3K, 2K e finalmente 1K. Não sei
se foi imaginação minha mas sou capaz de jurar que vi escrita mais de uma vez a
indicação do último quilómetro. Cada vez que passava por alguém da organização
perguntava quanto faltava. Eles apoiavam (e muito) mas a resposta nunca me
agradava, a última falava em 400 metros e eu sempre a sentir que estava a fazer
muito mais. Estar supostamente tão perto e não ver o estádio ainda me
impacientava mais. Não consigo descrever em palavras o quão exausto estava
naqueles metros finais mas eis que finalmente vejo o estádio e a Celina, à
entrada, à minha espera. Estou radiante. Faço um esforço final para dar a volta
de honra ao estádio e, pasme-se, ainda corro nos últimos 20 metros antes de
cortar a meta onde me esperavam a Ana, o Paulo, o Rui, o Diez, o Cadima e o
Stefan.
Terminei a prova por pura teimosia. Sou resiliente e nunca
duvidei que seria finisher independentemente estar completamente “feito num
oito” desde os 70K. Faltou-me arte e engenho para gerir 100K mas retirei daqui
bastantes ilações para o futuro. O UTSM, cuja organização foi irrepreensível,
foi mais uma etapa rumo ao objetivo das 100 milhas. Haja pernas que a vontade é
inquebrantável!
ULTRA TRAIL DE S.
MAMEDE 2014 - 100 km by António Veloso
Realizou-se
no passado Fim de Semana de 17 de Maio, o Ultra-Trail da Serra de São
Mamede ( UTSM ), prova organizada pelo Atletismo
Clube de Portalegre e com a colaboração dos municípios de Portalegre, Castelo
de Vide e Marvão e de diversas entidades e associações.
Prova com interesse relevante dado que se tratava de uma PROVA QUALIFICATIVA PARA O THE NORTH FACE® ULTRA-TRAIL DU MONT-BLANC®
Todos os atletas que se classificassem no Ultra-Trail da Serra de São Mamede recebiam 3 pontos para o registo na edição de 2015 do UTMB.
Esta prova contava ainda para O CIRCUITO NACIONAL DE ULTRA TRAIL DA ASSOCIAÇÃO DE TRAIL RUNNING DE PORTUGAL
A edição de 2014 do UTSM será uma das sete provas pontuáveis para o Circuito Nacional de Ultra Trail e recebeu a classificação UT/D (Ultra Trail Difícil).
Estiveram à partida 702 atletas, a maior parte
nacionais, evidentemente, mas também um bom numero de espanhóis.
Quando me propuseram escrever algumas linhas sobre esta prova
fiquei na dúvida de como abordaria o tema.
Podia escrevê-la passo a passo, do Km 0 ao Km 100 ( Na verdade
foram 102,5 ) ; aquilo que aconteceu nos 10 PAC’s ( Posto de
Abastecimento e Controlo ) ; que tinha começado às 00:00 do dia 17/05 –
um sábado ; que foi muito difícil ; que tinha um grau de exigência muito grande
; que eram mais de 7 ou 8 “empenos” de não sei quantas centenas de metros de
altura ; que estava imenso calor – cerca de 30º C … … …
enfim, tudo aquilo que parece muito difícil.
Mas não, não irei por aqui.
Vou sintetizar o que foi a minha primeira prova de 3 dígitos
– 100 Km.
Nunca tinha feito uma distância em Trail superior a 55 Km !!! Bom,
pensei eu meses antes da prova, quem faz 55 Km facilmente consegue correr
100 Km.
Pois é !!! Ideia absolutamente naïf e certamente utópica .
Um prova com três dígitos é uma verdadeira prova de superação
física e mental. É atingir os limites , a luta constante para resistir, o
vencer sucessivas barreiras, as metas que se conquistam Km a Km. Resumindo
: é usar a mente para gerir corretamente o corpo …
Primeira enorme dificuldade : São Mamede inicia-se às 24H
algo que é contranatura.
Quando o corpo começa a pedir descanso, eis-nos à partida
dispostos a correr uma distância que nos parece impensável ao comum dos
mortais.
Os primeiros kms parecem fáceis, está ainda tudo muito fresco, com
forças quanto baste para vencer as primeiras dificuldades. E elas apareceram
quando começámos a subir para o Parque Eólico e depois um pouco mais à frente
até às famosas Antenas. E já estávamos a uma altitude de 1.050 m, já com
30 Kms percorridos e por volta das 5 horas da manhã.
A noite passou finalmente sem qualquer percalço de maior. Tudo
correu como previsto, com muito cuidado não fosse uma queda deitar tudo a
perder.
Não poderei descrever por palavras o amanhecer em prova.
Absolutamente fantástico e indiscritível . O ar fresco, o perfume tão
característico do campo, a luz, sim finalmente a luz natural. Maravilhoso
! Mas … mal me lembrava do calor que aí vinha !
Agora é que a prova iria começar a sério. Por volta do final da
manhã avistamos Marvão ao longe, ainda de uma encosta sobranceira. Não, pensei
eu, não vai ser possível subir àquela bonita vila amuralhada. Estávamos
com aproximadamente 60 Km. Para mim foi o maior desafio da prova - a
subida até Marvão. Trepámos inicialmente por estradão, passando a trilho muito
técnico, depois pedra, pedra e mais pedra e por fim mato.
Foi uma subida tão dura que me levou a pensar em desistir. Sim .
Sem vergonhas. Porquê ? Não se pode enunciar esta palavra ? Eu sei que para os
“puristas” do desporto esta é uma palavra que não se encontra no seu léxico.
Mas esta ideia passou-me pela mente. A meio da subida decidi
“estacionar” na encosta para descansar e recuperar as forças . Só queria atingir
a vila, neste caso o PAC 6 para solicitar a minha desistência e a
consequente “boleia” de carro da Organização para Portalegre. Valeu-me o
“Mister” ( Rui Ramalho) que a mais de 50 m me dizia “ … olha eu fico aqui à
espera o tempo que for preciso … mas despacha-te lá … !“ .
Para esta decisão ( a da desistência ) muito influenciaram
questões de cadência inicial elevada e alimentação muito deficitária entre os
abastecimentos e nos abastecimentos. Mas a prova inicial serve mesmo para isto
– fazer o balanço do que correu menos bem e corrigir futuramente.
Com muito pouca vontade , mas muita insistência do Rui Ramalho ,
juntando-se depois o José Farinha que me pediu para não me precipitar na decisão
da desistência, lá continuei … agora com uma temperatura algo elevada,
principalmente em zonas de descampado.
Atingiu-se, então, o PAC 7 com cerca de 70 Kms . A partir
daqui parou a corrida. Do PAC 7 até ao final fomos a passo rápido. Já não me
era possível correr. Ou melhor, ainda seria possível , mas sentia que a
qualquer momento caía exausto. Era um cansaço físico, aeróbico, mental.
Eram as bolhas nos pés, muito por culpa das sucessivas passagens por cursos de
água, ribeiros e pequenos riachos, onde inevitavelmente tínhamos que molhar os
pés.
Entre os 10 e os 5 Km finais começa a nascer uma nova alma, um
ânimo extra que nos traz as forças necessárias para atingirmos o Estádio.
Avistamos ao longe Portalegre e pensei : … está feita !!! Finalmente vou acabar
os 100 Km . Os últimos Kms são tão penosos que parecem uma eternidade. Na
verdade fomos brindados com 102.5 Km e lá entrávamos no Estádio Eduardo de
Sousa Lima em Assentos para a volta de consagração antes do insuflável da meta
.
Foi uma jornada épica dado que todos os atletas do Millenniumbcp –
10 ao todo e mais dois Amigos, o João Figueiredo e o José Mascarenhas –
chegaram ao final.
PARABÉNS a todos pela sua grande prestação na referida prova de
Trail.
Os agradecimentos muito especiais ao Milllenniumbcp e ao
responsável pela modalidade de Trail – Eduardo Ferreira – que nos
disponibilizou o transporte para Portalegre além de outras despesas
inerentes a esta deslocação. Muito obrigado.
Por fim a classificação e os tempos efetuados :
Partiram 702 atletas tendo chegado 430 ao seu final.
Class. Geral
Nome
Tempo de Chip
189
|
Miguel Cruz
|
17:39:27
|
234
|
Fernando Rodrigues
|
18:42:39
|
276
|
Pedro Cordas
|
19:40:44
|
302
|
Eduardo Rodrigues
|
19:59:18
|
303
|
Pedro Neves
|
19:59:25
|
304
|
Hélder Baptista
|
20:00:06
|
339
|
José Farinha
|
20:40:42
|
340
|
António Veloso
|
20:40:48
|
341
|
Rui Ramalho
|
20:40:49
|
384
|
Sandro Jordão
|
22:03:35
|
Antonio Rui Veloso
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