Cumprindo a tradição (dizem !!!!!), que o novato nesta andanças é que escreve o relato. Como se houvesse cabeça para, nestas circunstâncias, abarcar tudo o que vi e vivi…………
Tratando-se de uma prova na Serra da Lousã, com a distância e altimetria anunciada, sabia-se que não ia ser fácil. Iríamos contar com a magnifica beleza das paisagens como ajuda! Locais de cortar a respiração!
Mas todo o esforço teria de ser bem gerido e os companheiros de corrida essenciais para terminar a prova.
A juntar a este quadro, tínhamos a meteorologia, que teimava em brindar os atletas com chuva, baixas temperaturas, vento e muito nevoeiro.
Partimos de Lisboa, no final da sexta-feira anterior à prova (Eu (Helder Baptista), os Eduardos Rodrigues e Ferreira e o Miguel Cruz), viagem feita com chuva, boa disposição e alguma ansiedade.
Check-in feito por volta das 21h na Pousada Juventude da Lousã (secretariado da prova), rumamos a “casa da D. Alice”, para o merecido e já muito desejado repasto (Bitelinha com esparguete) e Letria como sobremesa, sim, porque estes atletas levam a “coisa” a sério!
Ainda a processar a digestão, seguimos em direção a Vila Nova para o tão famoso chão duro. Chegados, o cenário já era de vésperas de prova, boa camaradagem, boa disposição, atletas nos últimos preparativos, alguns já dormiam, material espalhado por todo o lado. Para dar um ambiente mais familiar, acendi a lareira da casa!!!!
Foi num ambiente misto de ansiedade, alegria e alguma chuva, que a partida foi dada às 06h, daqui para a frente seriam 82k a correr, a correr em todos os sentidos, porque nem dei pelo tempo passar!!!
A correr por caminhos de rara beleza, de cortar a respiração pelo deslumbre da paisagem, espanto pelas aldeias atravessadas, pela água cristalina dos ribeiros, pela vegetação luxuriante.
Inicialmente atravessamos uma Lousã ainda dormindo, saímos da Vila em direção à Serra, contornamos o Castelo e encaminhamo-nos para a Central Elétrica através de uma levada que desafiou o equilíbrio de todos os atletas. Entramos na Serra, surge o 1º abastecimento, (Candal) chá e bolinhos, depois Aigra Nova e Coentral (2º e 3ºs paragens rápidas para não quebrar, nem arrefecer).
Aproxima-se o 4º abastecimento (Talasnal), as forças fraquejam, enfrentamos uma descida de lama, onde não tínhamos muito por onde escolher, o modo de progressão era pouco ortodoxo (cada qual escolhia a forma ideal para ultrapassar aquele obstáculo), encontro o “Muro” e faço contas de cabeça”. Mudo de roupa, delicio-me com um excelente esparguete com frango (porque canja já não havia ….) e parto novamente, assim que coloco os pés na rua fico novamente molhado …. Separo-me do Miguel, (fico para trás) com quem vinha desde o inicio, Dos Eduardos, sabia que iam bem e à nossa frente.
O Esparguete começa a fazer efeito e a moral sobe, o objetivo torna-se claro (terminar a prova dentro do tempo regulamentar).
5º Posto em Estrada das Aldeias (uma tenda no alto da serra) parar aqui era complicado, era o local de separação das duas provas, tal não era o meu atraso que já não encontro ninguém dos 30k. Caí a noite e voto a encontrar o Miguel Cruz no cimo da Serra, daqui até ao final não mais nos separamos. Sra da Piedade da Tábuas (6º abastecimento), canja quente, daqui para a frente a organização não nos deixa andar sozinhos, reagrupamos e seguimos. Começo a acreditar que é possível chegar à meta antes do portal ser desmanchado! Entramos no percurso mais técnico de toda a prova, caminhos junto a ribeiros, uma verdadeira loucura, de noite, chuva, água, somos colocados a prova mentalmente.
Espinho (7º e último abastecimento, era um café) a moral continua em alta, o grupo coeso, animação no café, bebemos uma “jola”, sorrio ao Miguel e acredito!
00:22h, atravesso o portal da meta, com um sorriso, UM GRANDE SORRISO!
Para meu espanto todos os atletas do MillenniumBCP (5) conseguiram superar os obstáculos da Natureza, dos 155 atletas chegaram 110 ao fim dos 85km para 4200 desnível positivo.
Helder Baptista
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