quinta-feira, 5 de maio de 2011

100km Oh Meu Deus - 2011

Excepcional 2.º lugar da nossa atleta Maria Gabriel
Decorreu no fim-de-semana de 30 de Abril e 1 de Maio, na Serra da Estrela, a primeira edição do Ultra Trail OMD (Oh Meu Deus).
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A aventura começou para nós (Edu, Vitor e Pedro Neves) na sexta-feira, às 17 horas, com partida do Tagus Park em direcção a Manteigas no coração da Serra da Estrela. Chegados a Manteigas e depois de nos juntarmos aos restantes companheiros de aventura (Lanzinha, F. Reis e M. Pereira, que tinham saído mais cedo de Lisboa, e à Gaby, que tinha vindo do Porto), procurámos um restaurante para jantar e estudar a "estratégia" para o dia seguinte. A possibilidade de apanharmos mau tempo era, de facto, um grande motivo de preocupação.
7h30 da manhã, últimas verificações. O Eduardo, o M. Pereira, o Jorge, o F. Reis, a Gaby e o Vitor, para a ultra de 102 km, o Pedro Neves para a maratona de 50 km. Apesar da chuva que caiu durante toda a noite, à hora da partida o tempo estava agradável, com temperatura amena, algumas nuvens e nevoeiro, mas conseguíamos ver os picos da serra à nossa volta - era um bom sinal. Optámos por não vestir os impermeáveis.
Os primeiros quilómetros são feitos em grupo e a bom ritmo, a passagem pelo Poço do Inferno revela uma paisagem extremamente bonita e agreste, cuidado redobrado na transposição dos obstáculos porque a chuva miudinha que caía tornava as pedras bastante escorregadias. Primeiro abastecimento (km 9) e "so far so good", até agora nada de novo, trail puro e duro. O Francisco tinha ido embora e o M. Pereira e o Lanzinha tinham ficado um pouco para trás.
O percurso entre o primeiro e o segundo abastecimento (km 18) deixou-nos preocupados, as marcações estavam ao contrário. Começaram a marcar do fim para o início e por isso estavam escondidas. Tivemos de parar muitas vezes para encontrar as fitas e, em algumas situações, tivemos de as recolocar para facilitar a orientação a quem vinha depois de nós. A chegada ao segundo abastecimento foi acompanhada de chuva muito intensa que nos obrigou a vestir o impermeável (bem, pelo menos a alguns de nós, porque eu, por já estar encharcado, achei que não adiantava vesti-lo e assim continuei).
Do segundo até ao quarto abastecimento (km 44), nada de novo. A chuva deu-nos algumas tréguas e aproveitámos onde o terreno era menos técnico para impor um ritmo mais vivo e recuperar algum do tempo perdido. A partir deste ponto começava a parte mais difícil da prova, a subida ao cume com passagem pelas Penhas Douradas. Tivemos a companhia de dois atletas, o Tiago Dioniso, do Stress, e o Vasco Chuva. No percurso até às Penhas Douradas (km 60, com 9h15 de prova) tivemos de tudo, estradões com muita pedra solta, subidas íngremes, descidas técnicas, enfim, o trail puro e duro.
Paragem para mudança de roupa. Disseram-nos para termos cuidado porque o tempo no cume estava agreste e que demoraríamos cerca de 3 horas para chegarmos ao Covão D'Ametade.
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Chegámos ao cume a 1.850 metros de altitude, 74 km percorridos em 11:40 horas, passámos por uma fenda muito estreita entre duas rochas de várias toneladas, por uma casa "embutida" entre enormes pedras redondas, pequenos riachos, neve, tufos de ervas que eram verdadeiras armadilhas e que nos obrigavam a andar, enfim... Neste posto de controlo estavam elementos da GNR de montanha que nos avisaram que os próximos 7 km iriam ser os mais difíceis de toda a prova e que só deveríamos continuar se estivéssemos muito bem fisicamente. Anestesiados pela chuva torrencial que caía, decidimos continuar.
A descida para o Covão d'Ametade foi a mais técnica e difícil que fiz até hoje. Muito pronunciada, repleta de obstáculos, com muitas pedras escorregadias, há ribeiros a correr por todo o lado e zonas de neve. Numa delas, o Eduardo sai do trilho e fica enterrado. Nesta altura, estou encharcado, gelado, não consigo segurar bem nos bastões porque me doem os dedos das mãos, tento manter-me em movimento. O Eduardo e a Gaby atrasam-se e vão perdendo terreno. Progrido lentamente aos esses, quase sempre dentro de água. Quando chego ao "vale", contorno uma lagoa, paro por momentos para retirar o frontal e... não funciona, as pilhas recarregáveis que uso não têm carga. Olho para trás para procurar o Eduardo e a Gaby e vejo que ainda estão longe. O frio intenso obriga-me a continuar, descubro uns atletas a 50 metros, acelero o andamento e encontro o F. Reis e outro atleta. O Reis está zangadíssimo com a organização por nos ter sujeitado a isto. Faço um ponto da situação: o Eduardo e a Gaby estão a cerca de 200 metros, o Jorge e o Manuel não sei, mas comento que vai ser complicadíssimo fazerem este troço de noite. Junto-me a eles para aproveitar a boleia das luzes, seguimos as fitas e encontramos pela frente um curso de água. A corrente é forte e tem pelo menos 1 metro de profundidade. Resolvemos procurar alternativas para o passar. Subimos 10 metros e encontramos um local mais fácil onde só temos de molhar os pés. Começamos a subir por uma encosta rochosa muito mal marcada, não se vê o trilho, não vemos as fitas e a progressão é muito lenta. Chegados ao cimo, são cerca de 2 km até ao abastecimento do Covão D'Ametade.
Estamos no Covão d'Ametade (km 79), tiro o casaco e a camisola encharcados e visto roupa seca - é a primeira vez, desde há algumas horas, que me sinto confortável. O Reis diz-me que vai abandonar, está farto da prova. Troco de frontal com ele e resolvo esperar pelo Eduardo e pela Gaby. Aproveito para comer e abastecer de líquidos. O Eduardo chega passados 10 minutos. Abastece, esperamos pela Gaby mas ela não aparece. Esperamos mais 10 minutos e nada. Deixamos mensagem que continuamos a prova devagar e avançamos. A subida até ao centro de limpeza de neves é feita pelo alcatrão, não era suposto, mas não vimos o desvio.
Entramos novamente em trilho, avançamos cerca de 400 metros e deixamos de ver marcações. Procuramos e nada, estamos perdidos. O Eduardo pede o número da organização para descobrir o caminho. Entretanto, avistamos um carro dos bombeiros que avança na nossa direcção, fazemos sinal com os frontais e esperamos. Quando chegam ao pé de nós dizem-nos que o percurso não está muito bem marcado, para seguirmos sempre por um estradão até encontrarmos outro carro dos bombeiros. A partir deste ponto e até ao Alto da Portela, o percurso é no início a descer com muita pedra solta e depois plano, feito em estradões. Aqui já vou em "piloto automático", não corro mas mantenho um ritmo bastante vivo que faz com que o Eduardo e os outros dois companheiros percam algum terreno que recuperam de vez em quando com uma corridinha. Avistamos ao longe os "pirilampos" de um carro dos bombeiros, é o nosso destino.
Chegados ao Alto da Portela (km 87), nova desilusão, era suposto ser um posto de abastecimento de sólidos, não há nada, só água. Perguntamos qual a distância até à meta, não sabem ao certo, 17 km ou 22 km, ou... dizem-nos para avançarmos - tenho a sensação que nos afastamos das "luzes" de Manteigas. Fico furioso, zangado, começo a andar novamente, nem espero que os outros atletas abasteçam. O Eduardo acompanha-me por um bocado mas fica para trás. Entro novamente em modo "piloto automático", acho que ainda mais rápido que antes porque deixo de ver o frontal do Eduardo. O meu pensamento é acabar isto o mais depressa possível. O percurso continua por estradões com algumas subidas. Passo por uma zona a que chamámos "lavagem dos carros" (cerca de 500 metros de estradões cheios de moitas onde somos obrigados a passar pelo meio delas) vou olhando para trás para ver o posicionamento do Eduardo, tenho a sensação que se vão atrasando, abrando mas eles não se aproximam, depressa entro outra vez no meu ritmo. Começo a descer, olho para o gráfico do percurso que levo comigo e tenho a sensação que é a descida para Manteigas. Muito técnica, cheia de pedras escorregadias, o nevoeiro só me deixa ver cerca de cinco metros à minha frente. De repente, uma "tabuleta", Vila de Manteigas 2,7 km, fiquei como novo, começo a correr (acho), ao longe as luzes indicam o destino. Continuo a descer de repente, deixo de ver fitas e tenho a sensação que me afasto das luzes. Paro, volto para trás até encontrar a última fita, vejo um frontal, é o Eduardo, grito-lhe para ter cuidado para não se perder ali. Entro no trilho e continuo a correr. Chego a Manteigas, os últimos 500 metros são a subir mas não me interessa, vou a correr e alargo a passada, não se vê ninguém nas ruas. Finalmente a meta, a Célia Azenha faz os últimos metros comigo. 19 horas e 106 km depois, acabo o 1.º OMD. Espero um pouco mas não vejo o Eduardo, começa a chover e vou para o pavilhão, já chega de molhas.
Quando chego ao pavilhão fico aliviado. O Jorge e o Manuel já lá estão. Fico a saber que a corrida foi suspensa no cume pela GNR de montanha por falta de condições. Vou para o banho, entretanto chega o Eduardo, só falta a Gaby que aparece pouco depois. O Pedro Neves e o F. Reis também já lá estavam.
Em resumo, prova duríssima dadas as condições climatéricas encontradas. As deficientes marcações nocturnas e a falta de abastecimentos também nos dificultaram a vida, mas nem tudo foi mau. A paisagem é, sem dúvida, do outro mundo. Com algumas melhorias creio que se poderá tornar na prova "rainha" do trail nacional.
Para a posterioridade, partiram 85 atletas, terminaram 47, a Gaby foi 2.ª das senhoras, Vitor 21.º e o Eduardo 22.º.
Fotos
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