segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Trail Régua Douro by Paula Batalha
A odisseia começou com o reunir dos 6 atletas do Millenniumbcp – 2 vieram de Évora, 2 do Tagus, 1 de Lisboa e outro de Sintra. Um grupo muito coeso, ao longo destes 3 dias.
Começámos com uma viagem de 5 horas, com chegada a Peso da Régua ainda a tempo de levantar os dorsais e assistir à actuação do Grupo Folclórico da Casa do Povo de Barqueiros Mesão Frio, no Museu do Douro.
A seguir, jantar rápido para tentar descansar um pouco – quase ninguém o conseguiu fazer ! – antes da alvorada, às 03h45m da matina !
A organização tinha um pequeno-almoço substancial, para todos os atletas que o solicitaram (mediante um pagamento de 4€). Sem reclamações.
Às 05h00m partiram os autocarros, com os atletas da prova dos 44km, em direcção a Mesão Frio. Chegada cerca de 15/20m depois. Único ponto negativo a apontar à organização : o tempo de espera até à hora de partida 07h00m, foi demasiado.
Às 07h00m começou a prova !
As minhas limitações pessoais não me permitiram preparar convenientemente – ou pelo menos, como eu gostaria ! – para esta prova. Como tal, tinha decidido fazer a caminhada (de 15km). No entanto, o N/ seccionista Edu concordou que se eu não me considerava preparada para fazer o trail, deveria optar pela caminhada… dos 44km ! Após consultar o regulamento da prova, constatei que tería 12h de tempo máximo para fazer esta prova. Resultado : levei em consideração a sugestão do Edu.
Assim que saímos da povoação de Mesão Frio, começaram as subidas.
Depois de várias subidas por entre as vinhas – com umas paisagens espectaculares pelas encostas vinhateiras, aldeias e casarios com gentes muito simpáticas e espantadas com aqueles forasteiros loucos que ali passavam, e desejando-nos sempre um “vá com Deus” – chegámos à 1ª descida a pique, por volta do km 11.
Foi uma descida vertiginosa de cerca de 2km, até Ferraria.
Logo a seguir, regresso às subidas por entre as quintas serpenteando o vinhedo, carregado de uvas, pronto para a vindima.
Se no começo da prova, fomos acompanhados por algum nevoeiro, por volta das 12h o sol apareceu e foi mais uma dificuldade a acrescer às subidas e descidas a pique.
Em Fontes, o 2º abastecimento foi no quartel dos bombeiros - local da junção da prova dos 80km com a dos 44km.
Em Santa Marta de Penaguião, fomos brindados com um Porto tónico – Vinho do Porto Moscatel, água tónica, ¼ de rodela de limão e uma folha de hortelã – ao dispor dos atletas. Atravessámos o campo de futebol, mesmo pelo meio, que foi regado propositadamente para refrescar os atletas – soube mesmo bem !
Ao longo de toda a prova, as gentes locais indicava-nos onde estavam as torneiras e tanques, para nos refrescarmos e reabastecermos os bidons de água fresquinha – uma ajuda preciosa !
Intervalando com as vinhas, a abundância de maçãs, romãs, marmelos e figos, que de tão carregadas as árvores, caiam ao chão. Abóboras enormes, penduradas nos muros de xisto, que separavam as vinhas, eram também uma constante.
O 3º e último abastecimento foi a cereja no topo do bolo : com um começo da subida de maior inclinação da prova ao km 32,5, e terminando com a chegada ao dito abastecimento ao km 35. De tal maneira violento que, os voluntários nos aconselhavam e ajudavam a sentar nas cadeiras, oferecendo-nos – de imediato – copos cheios de sal (para além de água, coca-cola, fruta, bolachas, e outros sólidos ao dispor em todos os 3 abastecimentos). Após esta paragem, muito bem vinda, ainda tínhamos mais de 1,5 km de subida, mas já não tão inclinada, a última.
A seguir, e até à meta, era sempre a descer. Parte da descida foi feita por uma estrada romana, que acrescentava dificuldade à inclinação a pique com as pedras escorregadias.
O percurso só suavizou quando chegámos a Peso da Régua, e fizemos os últimos quase 2 km pela ciclovia, junto ao Douro.
Subida de 500 metros, e eis que chegámos ao jardim do Museu do Douro onde estava colocada a meta com pórtico florido (original e bonito), e onde tivemos uma simpática recepção por parte da organização, amigos, família e gentes locais.
Terminada a prova, para além de um último abastecimento à nossa disposição, de um novo Porto tónico (aqui sim, pude apreciá-lo !), tínhamos uma vasta equipa de fisioterapeutas muito simpáticos à nossa espera.
No dia seguinte, na cerimónia de encerramento, novamente o grupo folclórico brindou-nos com uma bonita actuação durante quase uma hora, onde voluntários – o nosso atleta Paulo Pinto, incluído – puderam dar um pezinho de dança em parceria com os elementos do grupo : bonito de se ver !
Parabéns à organização !
EQUIPAS
Classificação | Equipa | Pontos Trail | |
1 | DESNÍVEL POSITIVO | 18 | |
2 | SNEAKERS POWER / APRT | 11 | |
3 | FALCÕES SELVAGENS | 7 | |
4 | CLUBE MILLENNIUM BCP | 6 | |
5 | GAIA-RUNNING | 5 | |
6 | K2RUN | 4 | |
7 | CLUBE PORTUGAL TELECOM ZONA NORTE | 4 | |
8 | CENTRO VICENTINO DA SERRA | 3 | |
9 | BILARUNNERS | 3 | |
10 | MINHO AVENTURA | 3 | |
11 | BTT TRILHOS DE PENAGUIÃO | 3 |
O MEU DESAFIO DE FAZER 2 TRAILS COM 12 HORAS DE INTERVALO by Manuel Rodrigues
Tinha-me inscrito para o Trail Noturno Lagoa de Óbidos, já há bastante tempo, quando surgiu a divulgação da realização da meia maratona extreme de Ponte de Lousa.
Como moro perto e conheço relativamente bem a zona de Ponte de Lousa, fiquei com vontade de participar na primeira edição desta corrida de trail, mas como estava inscrito para Óbidos, coloquei a ideia de parte.
Passados alguns dias e como não me tinha esquecido da prova, comecei a pensar que seria um bom desafio fazer duas corridas de ”trail” separadas por 12 horas e assim inscrevi-me na prova e comecei a preparar-me mentalmente para ultrapassar este desafio original.
Chegado ao dia 2 de Agosto, lá estava eu às 8 horas para levantar o dorsal em Ponte de Lousa, o que aconteceu após alguma demora e que acabou por implicar o atraso do início da prova em cerca de 15 minutos.
O tiro de partida foi dado e os cerca de 250 atletas lançaram-se ao caminho, que após uma passagem pelas ruas da localidade, começamos a subir durante cerca de 2 quilómetros, o que acabou por começar logo a fazer a seleção natural entre os participantes.
Eu opei por uma toada com alguma calma, porque sabia que não devia abusar do esforço, já que na prova da noite não queria sofrer muito. Ainda assim fui ganhando muitas posições e na altura em que houve a separação para o percurso mais pequeno dos 9 km, acabei por me juntar a 2 companheiros, que seguiam com um bom ritmo e acabámos por fazer a maior parte do percurso em conjunto, sempre a ultrapassar os que tinham iniciado “a todo o gás” e entretanto começavam a fraquejar.
No ponto mais alto, o cabeço de Montachique, parei para tirar uma foto e acabei por me atrasar um pouco, o que fez com que tivesse perdido a companhia, mas como dali para a frente era praticamente sempre a descer até à meta, optei por seguir no meu ritmo sem acelerar muito.
No final e numa prova que não tinha escalões, acabei os 21 quilómetros em 2h06m34s, na 31ª posição entre os 139 que terminaram a prova.
Com a primeira prova do dia superada, ainda tinha muita coisa para fazer pela frente e tinha que gerir muito bem o tempo disponível.
Entretanto e antes de me deslocar para Óbidos, almocei com a família, passei pela coletividade, onde sou responsável pela escola de ciclismo, carreguei a carrinha, preparei o material e levei os atletas da equipa de cadetes, para participarem no primeiro circuito de ciclismo da Chamboeira.
Gredos Infinite Runs - 26 de Julho de 2014 by Eduardo Ferreira
Decorreu no dia 26 de Julho de 2014, a 1ª edição da ultramaratona de Gredos, 120km com 6.500m de desnível positivo acumulado.
O Clube Millenniumbcp esteve representado por dois atletas, Maria Ribeiro e Eduardo Ferreira, alinharam a partida cerca de 40 atletas, tendo só 14 chegado ao fim, as desistências deveram-se sobretudo ao percurso exigente e as altas temperaturas que se verificaram (quase 40 graus).
Os primeiros 12kms foram feitos praticamente sempre a subir dos 1000m até aproximadamente aos 2400m de altitude, a seguir a descida até ao ponto de abastecimento do km20 era feito por um percurso fabuloso entre rochas e lagoas naturais. Este trilho era bastante técnico e exigia toda atenção.
Entre os km40 e 60 percorremos uma garganta num vale fabuloso, a temperatura rondava os 40 graus, só aptecia mergulhar nas águas limpas e frescas.
A partir do km70 fizemos o resto da prova de noite, mesmo assim as temperaturas e o bafo faziam-se sentir.
O Eduardo Ferreira chegou em 10º com o mesmo tempo que o 9º, terminaram 14 dos 34 atletas a partida. Tempo final de 27:47:34.
Esta prova custou algo mais do que estava habituado, sobretudo devido ao calor e a utilização de uns ténis que já demonstravam algum desgaste.
Como primeira edição nem tudo correu bem, as marcações e os abastecimentos foram as principais falhas, mas a beleza e o espirito da organização e ajudantes fizeram esquecer estes pormenores.
Mais fotos:
e notícia sempre a participação portuguesa na prova:
Trail Monsanto
EMBORA FAÇA CORRIDA DE ESTRADA JÁ HÁ ALGUNS ANOS PELO CLUBE, SEMPRE SENTI UMA ATRACÇÃO PELO TRAIL MAIS NÃO SEJA INCENTIVADO PELAS EXPERIENCIAS RELATADAS PELOS NOSSOS ATLETAS.
TINHA A CONVICÇÃO, QUE O TRAIL TERIA QUE SER O DESAFIO SEGUINTE POR TUDO O QUE ESTA MODALIDADE REPRESENTA.
MINHA PRIMEIRA PROVA FOI EM ABRIL PASSADO NOS TRILHOS DE ALMOUROL,PROVA QUE "CUSTOU", MAS DEU MUITO GOZO E COM VONTADE DE PENSAR NA PROXIMA.
ENTRETANTO,COM PROVAS DE ESTRADA PELO MEIO, DECIDI PARTICIPAR NO PASSADO DIA 21 DE JUNHO NA 2º EDICAO DA LISBON ECO ECOMARATHON , PROVA CARATERIZADA POR DOIS PERCURSOS DISTINTOS, UM COM A EXTENSAO DE UMA MARATONA E OUTRO DE 19 KM. DESIGNADO POR CORREDOR VERDE.
AMBOS OS PERCURSOS SÃO CUMPRIDOS ESSENCIALMENTE POR TRILHOS FLORESTAIS ,CICLOVIAS E UMA PEQUENA PARTE EM ESTRADAS ALCATROADAS.
PARTICIPEI NA PROVA DE 19 KM , COM UM EXCELENTE AMBIENTE DE PARTIDA,PESSOAL DO CLUBE BEM DISPOSTO E SEMPRE ANIMADO COMO É APANAGIO DOS NOSSOS ATLETAS.
O PERCURSO DA PROVA CONSIDEREI ACESSIVEL PARA QUEM ESTÁ A DAR OS "PRIMEIROS PASSOS", PERCORRENDO ESTRADAS E TRILHOS FLORESTAIS BEM COMO OS PONTOS OS MAIS EMBLEMATICOS DO PARQUE DO MONSANTO .
TENDO A PROVA DECORRIDO A NOITE, CRIOU-SE UM AMBIENTE FANTASTICO PELOS LOCAIS QUE PASSÁVAMOS RECRIADO PELAS LANTERNAS DOS PARTICIPANTES, COM CENARIOS FANTASTICOS E MAGICOS .
O FINAL DA PROVA PARA OS DOIS PERCURSOS, CULMINOU NO CIMO DO PARQUE EDUARDO VII COM UM AMBIENTE FANTASTICO A ACOLHER OS PARTICIPANTES COM MUSICA, ANIMAÇÃO E BARRAQUINHAS DE PETISCOS ETC (EXCELENTE PARA UMA NOITE DE SABADO).
A ORGANIZACAO NO GLOBAL ESTEVE BEM, EMBORA CONSIDERE QUE A PROVA PODERIA TER COMEÇADO UM POUCO MAIS CEDO (PARTIDA DA MARATONA OCORREU AS 19:30 E A DOS 19 KM AS 21 HORAS) , ASSIM COMO A CORRIDA DOS 19 KM ACABOU POR SOFRER UMA REDUÇÃO DE 4 KM SEM QUALQUER JUSTIFICAÇÃO JUNTO DOS ATLETAS.
NO GLOBAL GOSTEI MUITO E O "BICHINHO"ESTÁ A CRESCER.
TRAIL DE SINTRA NUNCA MAIS CHEGAS…..
Freita 2014 by Pedro Cordas
À Freita o que é da Freita…
No dia 28 de Junho de 2014 participei no UTSF…vulgo, Freita!
A participação na Freita começou por ser um desafio que apareceu do nada; não que não tivesse pensado na prova, não que não a tivesse previsto fazer, mas não neste ano, ano em que tinha atingido a marca dos 3 dígitos há apenas um mês e meio, logo sem saber as condições em que me encontrava. Mas a oportunidade apareceu através do Clube Millenniumbcp…e a tentação de uma grande aventura foi mais forte. Quando dei por mim, estava inscrito naquela que é considerada uma das mais duras e difíceis provas de Trail de Portugal e, por consequência, uma das provas mais apetecíveis de concluir.
Para quem não está muito por dentro destas andanças do trail, a Freita é uma prova que se realiza na serra que lhe dá o nome. São 70kms para além do mais duro que possam imaginar, com um desnível positivo de 4000 metros (valor do desnível que temos de vencer em ascensão; em termos práticos, será partir do nível do mar, subir até ao cimo da Serra da Estrela…duas vezes!), claro que temos ainda o desnível negativo (descida), outros 4000 metros. No total é um acumulado de 8000 metros.
A Freita atrai, repele, agiganta-nos, diminui-nos…qualquer um que ande no trail não lhe fica indiferente. É uma prova que tem a proeza de vergar homens e mulheres de muita fibra, rijos, que pura e simplesmente não conseguem vencer a serra, a distância, as dificuldades, o clima. Em 2013 a taxa de desistência foi bem acima dos cinquenta por cento, muitas motivadas pela temperatura que andou na casa dos 40º, portanto, é para esta prova que chego ao Parque de Campismo do Marujal (zona de secretariado, partida e chegada) com os meus companheiros de clube pelas 23h00 de sexta, para levantar os dorsais, comermos um excelente jantar levado pelo Miguel Cruz, avisar que tínhamos chegado bem…espera, avisar como? Não há rede de telemóvel! E dormitar duas a três horas enrolado num saco cama dentro de uma carrinha. Temos uma certeza, não vai estar tanto calor, mas vamos ter chuva.
A partida da prova é pelas 5h30 (acabaria por ser às 5h45 porque o controlo zero atrasou, mas acho que ninguém se importou muito). Portanto às 4h30 já estamos mais do que acordados – comer, equipar, últimos preparativos, verificações, etc…
Os primeiros quilómetros são feitos no planalto acompanhados de uma paisagem rochosa, plana, rolamos por estradões, com muito cuidado (aos oitocentos metros vejo um atleta que conheço fora do trilho a queixar-se de um pé, mais tarde venho a saber que foi um entorse…alguns meses de treino e preparação que se esfumam ao fim de cinco minutos de prova, é duro, é triste), não é uma progressão particularmente difícil, mas há que ter cuidado com os buracos e as pedras. O pessoal do clube vai em grupo. Vamos avançando com cuidado, ainda estamos no início. Olho para o GPS…não vai a contabilizar os quilómetros - faço reset ao relógio e lá volta a marcar novamente, tudo em andamento.
Com cerca de 18 kms de prova chegamos ao Rio Paivô, já tínhamos rolado, descido, passado pelo túnel, pode-se dizer que a aclimatização e o aquecimento estava feito: Meus Senhores e Minhas Senhoras, a Freita vai começar! O Rio Pavô é um rio de água cristalina, fria, pura, nascido das entranhas da terra, da rocha, e como tal, na rocha continua, e continua, e muito água vai ter de passar para desgastar a rocha que lhe serve de obstáculo e cama. Foi o primeiro contacto com os reais perigos da Freita – a rocha molhada (pela chuva e pelo rio) com limos que a torna ainda mais traiçoeira, quer esteja submersa, emersa, nas margens, em qualquer lado, é um verdadeiro desafio e perigo. Eu que pensava que a altimetria ia ser o principal problema, deparava-me agora com uma tarefa bem intrincada, progressão bastante lenta, num bailado constante de entra e sai da água, sempre a escorregar. Sempre perigoso. Avançamos por ali cerca de dois, três, quatro quilómetros, perdemos a noção…subimos rocha, descemos, baixamos o centro de gravidade, e andamos com as mão no chão, escorregamos, e escorregamos outra vez, e caímos, e caímos mais, e vemos que escolhemos mal o caminho e estamos numa armadilha de limos e água, e andamos com água até aquase ao peito agarrados a troncos, e sentimos todos os músculos do corpo a trabalhar - esta parte do rio foi das mais difíceis. E vemos atletas que preferem ir a nadar rio acima, deixando um rasto de géis, telemóveis, barras energéticas atrás. Lá acabamos por sair daquela zona, aliviados, e chegamos ao primeiro abastecimento, aos 21 kms, Covelo de Paivô, bem dentro do tempo de corte da organização, 5 horas.
Continuamos e subimos por um trilho em lage, fantástico, duro, que nos leva à aldeia de Regufe; de seguida subimos mais, sempre com subidas duras que apenas são superadas pelas paisagens que vamos observando. Depois descemos na direção de Drave, uma bonita aldeia de xisto, onde estava o abastecimento dos 30 kms. Em Drave conseguimos reagrupar-nos, não todos, mas sempre fazemos uns quilómetros em companhia. Partimos com destino ao Rio de Frades e às suas maravilhosas piscinas naturais, que emprestam um tom azul turquesa à prova, mesmo com a chuva são uma tentação. Mais à frente, numa zona do leito do rio com muita rocha, acabamos por nos separar novamente e sigo com dois atletas que fazem parte do grupo. Mais uma vez água, rochas e quedas. E mesmo depois de sairmos do leito do rio continuamos num terreno escorregadio e bastante traiçoeiro; subimos e descemos por encostas íngremes, algumas com bastante rocha molhada, numa destas descidas acabo por ter uma queda violenta e magoar ligeiramente uma mão. Todo o cuidado é pouco! Lá chegamos ao abastecimento dos 40kms, em Póvoa de Leiras. Tempo de corte da prova, 10 horas - passamos com muito tempo. Há cerveja, bôla (que também já havia em alguns dos outros abastecimentos) e outros mimos para dar alento.
Saímos do abastecimento, próximo destino…A Besta! (é primeira vez que faço a prova, não sei a que kms é a famosa subida, portanto chego lá sem saber que…é ali)
”Quem construiu” a Serra da Freita deve ter tido um local para vazar o entulho e as pedras que não eram necessárias, ora esse amontuado de pedras é a Besta –
um quilómetro de escalada, por pedras enormes, musgo, árvores, água à superfície das pedras, água por baixo das pedras. È muito técnica e deu-me um gozo enorme fazê-la. É enchermo-nos de alma e subir sempre sem parar. Utilizamos braços, pernas, joelhos, o corpo todo…e está feito!! A Besta é isto e está domada! Falta o resto…
Saímos da Besta para o planalto, para uma zona de eólicas, com estradões e zonas mais técnicas. Depois descemos para o abastecimento dos 50 kms, também por zonas técnicas com muita rocha. Consigo impor um bom ritmo, tanto nos estradões como depois nas descidas.
Após o abastecimento continuamos a descer, entramos numa zona de singles tracks, passamos por uma levada, com passagens difíceis que requeriam muita atenção - numa passagem passo por cima de uma parede estreita com água a correr por cima, não sei se a passagem era por ali, ia sozinho e as marcações passavam por ali, se calhar até havia um trilho ao lado para que o risco não fosse tão grande. Vamos em direção ao rio, até que aparecem cordas de apoio…cordas de apoio significa uma de duas coisas: subida difícil ou descida perigosa, ora, nós vamos a descer…; temos portanto descidas bastante acentuadas pelo meio de árvores, como eu gosto, daquelas que dá para bailar por entre as árvores, o problema é que devemos ter um palmo de lama nas descidas, é portanto impossível correr sem correr um grande risco, ou mesmo andar sem o auxílio das cordas – na segunda corda fico agarrado por apenas uma mão a uma distância razoável do chão, ficou o aviso; lá acabo por chegar novamente ao rio, onde uma cascata nos recebia e os elementos de uma escola de montanha davam um precioso auxílio na transposição de algumas rochas. Temos 54 kms nas pernas e braços, toda a ajuda é bem vinda. Bom, tudo o que descemos…subimos, portanto temos uma subida na medida da descida que tínhamos feito com as cordas; subimos e subimos, depois descemos novamente, e voltamos a subir, sempre a subir até ao abastecimento perto dos 60 kms. Sopa, bifanas e tudo o mais que havia nos outros abastecimentos. Um verdadeiro manjar! Temos o resto da subida pela frente, mais uma vez, dura!
Continuo então a subir - o abastecimento ficava sensivelmente a meio, no interior de uma aldeia - ao sairmos da aldeia entramos na encosta da serra, despida de árvores, aqui percebo porque tanta gente me falou no mau humor da Freita, está um vento forte e gélido! A subida é feita no lado da sobra, ao entardecer, não visto o impermeável porque acho que a subir acabarei por ter calor, mais tarde terei de o fazer porque está mesmo muito frio e vou a despender energia extra para manter o corpo quente. Durante a subida vejo ao longe outros atletas e os locais por onde tenho de passar, é impressionante a inclinação. É uma subida mesmo muito dura!
Acabada a subida entramos novamente no planalto. Vejo vacas da raça arouquesa a pastar, belos animais! Consigo encontrar o meu ritmo e volto novamente a correr; o terreno é traiçoeiro, muitas pedras, difícil. Pelo meio encontro um atleta que conheço de outras provas, conversamos para os kms irem passando mais depressa, e ali, no meio do nada, tenho uma aula de geologia, ele diz-me que estamos a passar por pedras parideiras, basicamente são pedras “das quais nascem outras”, um fenómeno geológico que ocorre naquela zona – parei para ver o tal fenómeno, é mesmo verdade! Ele segue, vai feliz, o ano passado ficou por aqui, pelos 63kms, não acabou a prova, este ano é possível que seja ele a ganhar à Freita! Chego aos 65kms, último abastecimento. Como pouco, reponho a água e sigo. Faltam 5kms, mas são os 5kms finais da Freita…
O porquê da importância para mim de serem os 5 kms finais da Freita? A Freita andou-me a desestabilizar, como já disse anteriormente mexe sempre connosco! Queria muito acabar esta prova, vêm-me à cabeça as palavras que ouvi quando me inscrevi: “doido”…“louco”…“maluco”. A preparação que fiz, os sacrifícios, os momentos bons, os maus, as pessoas que me ajudaram a preparar a prova, a pessoa que me acompanha ao longe, tudo isso segue comigo nestes últimos 5 kms, tudo isso vem em mim, cravado na alma e no corpo. Estou a entrar na zona mágica da Frecha da Mizarela, do PR7. Estou a 5 kms do fim, mas ainda não acabei…
Começo a descer a encosta irmã da Frecha da Mizarela, é perigosa e difícil, percebo agora as palavras de um outro atleta: “a Mizarela não é só a subida…é também a descida…” – na altura não percebi, mas agora sim. Maravilho-me com a cascata do lado direito, é enorme. Vou bem psicologicamente, mas muito cansado fisicamente. Caio quatro ou cinco vezes, quedas perigosas. Abrando o passo e faço a descida em modo “baby steps”, mais cinco, dez, quinze minutos, não interessa, já vou fora do tempo que queria fazer, mas muito dentro do tempo para terminar a prova. Chego ao fim da descida. Passo a ponte. Subo ao pé de umas casas – há pessoas que me aplaudem e incentivam, encontrei muitas ao longo do percurso, principalmente nos abastecimentos, algumas conhecidas, outras não, sempre senti apoio.
Começo a subir – para me auto motivar meti na cabeça que não ia parar, seria tudo de seguida, e fi-lo. A paisagem é fantástica, com a pouca luz do dia que resta ainda se torna mais misteriosa. Misteriosamente bonita. Subo a bom ritmo, tendo em conta o cansaço; de repente aparecem uns postes, vejo-os no cimo da encosta, estou ao pé da estrada, cheguei ao cimo – pensei! Mas volto a descer. Desço algum tempo. Meia encosta, talvez. E subo novamente, e acabo por chegar à estrada, agora sim. Sorrio sozinho. Para trás tinham ficado árvores, o verde escuro, sombras, o cheiro da natureza, o som da cascata, musgo que envolvia pedras, lama, água, a Frecha da Mizarela, o PR7 e um pouco de mim…
Quando chego à estrada tenho de continuar a subir, é apenas mais um pouco de alcatrão até ao miradouro, motivo-me; aproxima-se um carro branco que abranda ao pé de mim, abrem os vidros e incentivam-me, uma rapariga diz-me que estou já muito perto, acompanham-me durante umas dezenas de metros, no meu ritmo lento…balbucio um agradecimento. Para eles foi um gesto simples, para mim foi um balão de oxigénio…
Passo pelo miradouro e chego novamente ao planalto, ao estradão, dizem-me que falta menos de um quilómetro; sigo com a pouca luz do dia a acompanhar-me, decidi que vou chegar sem o frontal ligado, vou conseguir! Durante o trajeto passa alguém por mim em sentido contrário e diz-me que faltam só trezentos metros – o só aqui é tão relativo - apercebo-me pouco depois que essa pessoa foi acompanhar os últimos metros de um atleta que vinha atrás de mim, acabamos por ir os três juntos até à meta. Estava feita a Freita. Tinha acabado de fazer a mítica Freita, e a medalha de xisto com a inscrição de “Finisher” que me balouçava no peito era a prova disso. Na altura não percebi o impacto em mim, uma parte ficou lá…mas trouxe muito mais do que podia imaginar!
Quanto à nossa equipa, todos concluímos a prova (numa prova que mais uma vez teve uma taxa de desistências alta), pelo que foi uma excelente jornada para nós e para o Clube. Penso que todos, com mais ou menos experiência (onde me incluo), têm uma visão muito própria da experiência que foi a Freita, a minha tentei condensar em meia-dúzia de linhas, mas muito mais poderia dizer, acredito que os outros também.
Resultados - Geral
Posição | Dorsal | Nome | Clube | Escalão | Tempo | ||
95 | 86 | Fernando Eduardo Teixeira Vilela | Clube MBCP | M-50 | 14:59:19 | ||
124 | 269 | Pedro Miguel Batista Cordas | Clube MBCP | M-40 | 15:56:08 | ||
135 | 214 | Miguel António Reis Cruz | Clube MBCP | M-40 | 16:23:14 | ||
142 | 292 | Sandro Miguel Santos Jordão | Clube MBCP | SEN-M | 16:52:10 | ||
179 | 159 | Jose Luis Baceira Farinha | Clube MBCP | SEN-M | 17:43:32 | ||
Para terminar, um agradecimento ao Clube Millenniumbcp pelas excelentes condições que nos proporcionou para podermos realizar a prova.
Uma referência especial ao Miguel Cruz pela preparação da prova para toda a equipa (caderno de prova), pelo jantar e por ter conduzido o transporte. Muito Obrigado!
A todos, espero encontra-vos numa próxima grande aventura…UTAX 100?
Pedro Cordas