terça-feira, 12 de outubro de 2010

IRONMAN BARCELONA MARESME 3 OUTUBRO 2010

 
IMGP0507
Prólogo: No dia 3 de Outubro, os associados Pedro Quaresma, Fernando Feijão e Humberto Lomba, levantaram-se às 5 da manhã para comer a maior quantidade de hidratos possíveis, pois iam enfrentar uma prova de Triatlo Longo, cujo início estava marcado para as 7h30, ou seja, aos primeiros raios de Sol.
Sem prejuízo das palavras, se tiverem oportunidade vejam neste endereço o primeiro vídeo, com musica étnica, para melhor compreenderem o ambiente e as palavras que se seguem:
http://www.youtube.com/watch?v=W63OJJTXim8
1 - Atletas que se levantam de madrugada e caminham para a "arena do sofrimento", sem medos ou hesitações (cerca de 1100 atletas, de 36 países);
2 - Contudo, sente-se no ar... muito stress acumulado;
3 - Ninguém se ri, ninguém tem tempo para confraternizar, ninguém se encontra distraído;
4 - Todos preparam comidas, hidratação, bikes...;
5 - Iniciam a contagem decrescente para várias horas de sofrimento que se aproximam;
6 - "Visualizando a prova";
7 - Preparando não o corpo (esse já tem que vir "preparado"), mas sim a mente...;
8 - Sabemos que o aspecto físico, o aparente "fitness corporal", não é tudo;
9 - Mas mesmo assim, pelo recorte físico de cada participante, percebe-se que temos ali, mais de um milhar de almas;
10 - Provindas de todo o globo, com um traço em comum - Saúde. A vila, o local, respira Saúde e Energia;
11 - Nenhum outro desporto, nenhum outro evento desportivo, concentra tanta energia e tanta saúde;
12 - Julgo que todos sentem-se uns privilegiados por pertencerem, conviverem e ombrearem neste grupo;
13 - Eu sinto-me;
14 - A quase totalidade com equipamentos de topo, envergam t-shirts que comprovam a passagem deles por eventos idênticos em outros locais do Mundo. Uns cujas profissões são aquilo mesmo (triatlo), outros pertencentes a forças militares especiais, etc... enfim um leque giro;
15 - Dizem-me que em mil e tal "loucos", cruzei a meta em 166. E no meu escalão etário, no Top Ten.
Fotos Prova
Crónica de Humberto Lomba OLYMPUS DIGITAL CAMERA
A Natação: É o meu segmento mais forte e, como tal, nem devo estar nervoso com este segmento. As largadas são espaçadas e separadas pelos escalões etários, o que significa que vi o Quaresma (40-44 anos) partir 10 minutos antes. Cerca de um minuto antes de cada leva se lançar ao mar, a mole humana começa cadencialmente a bater palmas, incentivando os que vão partir. Perfilam-se outros cento e tal atletas (45-49 anos) e novamente as palmas a incentivarem, desta feita a mim e demais grupo que ia arrancar.
Pela primeira vez, nesta manhã, não consegui evitar e senti o ritmo cardíaco a disparar minutos antes da partida, e zás, começou a minha prova de longas horas. Viam-se as alforrecas (sinal que a água estava com óptima temperatura), o fundo do mar e o som daqueles braços todos a avançar mar adentro. Primeira bóia contornada, e agora são 1400 metros sempre no "red line", como eu gosto. O grupo percebe-se que vai esticando e a deixar elementos para trás. Percebo que vou num ritmo óptimo, e num grupo de uns 6 elementos, o que facilita, pois divide-se a tarefa de irmos visualizando as linhas óptimas de progressão. Contornamos a bóia e agora são 1700 metros já no sentido oposto, e começamos a apanhar os últimos do grupo que partiu antes, ou seja, já estávamos a ganhar 10 minutos aqueles atletas, o que motiva ainda mais, e aumenta-se a braçada, pois já vamos para o fim.
Segmento de natação que implica quase 4 km de nado, concluído em 1 hora e 3 minutos e já vou a correr em direcção da bike. Percebo que nos corredores do meu escalão etário, as bikes estavam lá praticamente todas, o que confirma o que já me parecia dentro da água, ou seja, estou nos primeiros lugares. Se por um lado motiva o atleta (saber que vai no grupo da frente) nestas provas com esta quilometragem, temos que ler bem os sinais do corpo, saber dosear o esforço pelas quase 11 horas que se perspectivam pela frente.
A Bike: Volvidos uns 15 km de bike, vislumbro as cores do Clube, ou seja, vejo o Quaresma. Lança um grito de incentivo e digo que por ora sentia-me a 100%, pelo que ia arriscar e lançar-me para médias de cerca de 35 km/hora na bike. Isto ao contrário do que tínhamos planeado nas vésperas, ou seja, controlarmos os entusiasmos, pois mais importante que melhorar 20 ou 30 minutos, era nosso ponto de honra - terminarmos os 3 e tirarmos a Foto Final com esse desígnio executado.
180 km de bicicleta não passam propriamente a correr e nada como ir vendo o Feijão e o Quaresma, nos retornos das voltas, trocarmos incentivos e percebendo que estamos todos bem, para irmos motivando uns aos outros. Terminei a bike em pouco mais de 5 horas e meia.
Entro no parque de transições e reparo, mais uma vez, que estão lá meia dúzia de bicicletas, o que significa que no meu escalão continuo lá pelo topo. Organização excelente, enquanto rapidamente tiro um equipamento e coloco o outro, alguém me coloca protector solar e lanço-me para a estrada, para o último segmento, aquele que menos treino levei.
A Corrida: Se o sentimento que continuo à frente motiva-me, por outro lado, continuo a ter que ter prudência quantos aos ritmos. Seja como for, pensava eu mordazmente: se pela lista de partida percebe-se que os competidores pertencem a clubes de triatlo de países com pergaminhos e profundidade na modalidade, Tropas Especiais, enfim gente que vem de cantos longínquos do Mundo (logo não vêm para brincar). Será correcto Bancários intrometerem-se nos melhores lugares? Os quilómetros começam a pesar-me as pernas, já não são pernas, mas sim "troncos". Vejo o Feijão e percebo que não vai com o ritmo do nosso melhor corredor do Clube, mas pelo que conheço do atleta e competidor, percebo que vai seguramente terminar e com bom tempo e classificação no escalão. Cruzo-me com o Quaresma, e percebo pelo semblante, que já não vai deixar a oportunidade de concluir a prova. Fez sempre uma prova segura, tudo planeado, e é um valor seguro, daqueles vai Conseguir percebi eu.
Completei a meia maratona e continuo a sofrer. O ver inúmeras caras em sofrimento atroz, o sabermos que não estamos sozinhos neste esforço, leva-nos a acompanhar a mole de competidores. O corpo pede para abrandar, para parar, mas a cabeça não permite ao corpo que pare. Cada abastecimento é a oportunidade de o corpo parar umas pequenas passadas enquanto bebe uns goles de Coca-Cola, água, mas mentalmente temos que estar "programados" para arrancar logo, porque se paramos minutos já não arrancamos.
Na nossa gíria, utiliza-se a expressão "o homem da marreta", que quer dizer o instante em que o organismo entra em colapso e já não consegue reagir, de acordo com a vontade mental programada. O cansaço vai apoderando-se de mim, é o ritmo cardíaco que começa a estar sempre "lá em cima" e nem nas descidas recupera. É a sede que aumenta, mesmo com todos os líquidos ingeridos. É o calor. São as pernas pesadíssimas. Em resumo, "o homem da marreta" procurava novas vítimas, e eu a "esconder-me" desde a meia maratona. O treino que antecedeu a prova já não é argumento, pois as reservas já terminaram todas. Agora já entrou em jogo, a "arte de enganar a dor do corpo" através de jogos mentais, tais como: "Tenho que não parar até ao próximo abastecimento"; "Deixa-me concentrar o meu ritmo, pelo ritmo daquele atleta ali a 50 metros adiante". Ao quilómetro 28, "o homem da marreta", descobriu-me e acertou-me em cheio sob a forma de cãibras. A desculpa perfeita para o corpo parar... "seu s@cana, pensei eu". Alongamento, pequena caminhada, para enganar a cãibra, e já estou a correr novamente, que não vou ceder tão facilmente. Mas o problema é que as cãibras também não desapareciam e sempre que tentava correr "à séria", mais cãibras. Deixei de correr a 5 e tal o km e passei para uns 7 ou mais, e mesmo assim, bastava uma ligeira inclinação, quer ascendente quer descendente, para ter que parar com novas cãibras.
O público é que não vacila e tenta incentivar tudo e todos, e naqueles instantes em que não estava a correr com o ritmo pretendido, são eles o espectador das ruas, que nos incentivam. A meta já esteve mais longe, e não são nestes últimos quilómetros que vou baixar os braços e estragar completamente a classificação, pensava eu. Já se ouve o público que se concentra nas bancadas da chegada, que grita e aplaude cada um que vai chegando. Num assomo de energia, o chamado "cheiro da meta", faz com que o grupo que me acompanhava, qual Fénix renascida, faça o último quilómetro em passada outra vez solta, e eis que chega a linha de chegada.
Missão Cumprida. Os atletas ao cruzarem a meta, fazem-lhes a pergunta da praxe (se nos estamos a sentir bem), um pavilhão de comidas e bebidas que ninguém quer naquele instante e um pavilhão de fisioterapeutas que tentam recuperar muscularmente as pernas dos atletas. Deitado e a receber massagens, percebia pelo speaker que a equipa de estafetas femininas estava a chegar. Pelo tempo pensava que no Clube temos uma nadadora, uma ciclista e uma corredora que ganhariam se ali estivessem presentes. Estava seguro que o Quaresma e o Feijão já tinham chegado ou estariam a chegar, que classificações teríamos alcançado por equipas e nos nossos escalões, e que acções a implementar para fazermos ainda melhor. Completamente exausto, e em vez de pensar em recuperar, já estou a pensar no próximo objectivo, "doença malvada"...
Para a História fica então: entre 37 equipas de triatlo, o Clube ficou em 15 lugar; concluí no 166 da geral, 10 no meu escalão, com o tempo de 10h50; o Fernando ficou no primeiro lugar do escalão dele (55-59), com o tempo de 11h07, "obrigando-nos a adiar a partida umas horas depois das planeadas, para receber este prémio internacional de triatlo; o Quaresma fez o tempo de 11h30.
Quer na classificação geral, quer por escalões, e ainda por equipas, são tudo resultados bastante acima das expectativas, ou seja, missão cumprida uma vez mais. No oficioso "hall of fame" dos portugueses que já concluíram um IM (cerca de centena e meia de atletas), já figuravam eu próprio, o Francisco Reis (que se sagrou Campeão Nacional de Triatlo Longo pelo Clube há uns anos atrás), o Pedro Nogueira Silva, juntando-se agora o Fernando Feijão e o Pedro Quaresma, ou seja, cinco Atletas do Clube.
Epílogo: O Iron Men não é um evento desportivo. É um acontecimento para a Vida. São conhecidas as frases de jubilo dos atletas do atletismo que terminam uma maratona. É tentar então perceber o que sente um Tri-Atleta que termina essa mesma maratona, antecedida de um "mergulho" no mar de 4 km e um "passeio" de bike de 180 km. Ser Finisher de um IM não é conquistar o inútil: é o exemplo, é a motivação, é uma inspiração. Por outro lado, também nos apercebemos do competidor, que passou pela penúltima vez a linha de meta, o que significava que tinha ainda 10.5 km para cumprir, que o teria que fazer em menos de uma hora, ou seja, se por um lado olhando para a cara do atleta percebíamos que não ia parar, com maior facilidade todos percebiam que não ia conseguir no tempo limite. O IM, tal como na vida, também pode e é cruel. Resta-nos agradecer à Direcção do Clube, mais do que o apoio, o voto de confiança nesta missão, de provarmos que fazer um IM também está ao alcance dos Associados do Clube Millennium bcp. Há alguém de Norte a Sul, pelas Ilhas, que se sinta com capacidades e queira abraçar este desafio para o ano? Se sim, contactem-me (Humberto Lomba). Parafraseando com alguma adaptação: o fácil não nos interessa, o difícil já conquistámos. Vamos provar que conseguimos o impossível e apurar um associado para a Meca dos IMs?
Crónica de Fernando Feijão feijao
O Ironman é de facto um desafio enorme! Cansa só de pensar que temos de nadar 3,8 km, andar de bicicleta 180 km e depois correr uma Maratona! Mas é mesmo assim. São estas as distâncias e é este o desafio que põe à prova as nossas capacidades físicas e mentais. Que nos transforma, tornando outros homens/mulheres capazes de enfrentar tudo sem medos, sem receios e com um enorme orgulho de podermos dizer: Eu Consegui!!!
Pois meus amigos/amigas, este é um desafio que eu recomendo a todo e qualquer desportista, com saúde e "algum" tempo para treinar. Porquê: porque é o desafio dos desafios, é a "loucura das loucuras", é uma experiência única que nunca mais esquecemos. Conseguimos pôr à prova as nossas capacidades físicas, mentais, de organização, de persistência e de nunca desistir, porque o homem consegue sempre, desde que para isso se prepare. Só para resumir: depois de 30 anos a fazer desporto, vários títulos e vitórias conquistadas em diversas modalidades, faltava-me ainda Um Ironman. Pois já fiz centenas de provas de atletismo (curtas, médias e longas), dezenas de provas de orientação, pedestre e em BTT, dezenas de triatlos (curtos médios e longos), provas de canoagem, dezenas de provas de aventura e... uma operação a um joelho, portanto faltava-me mesmo este desafio!
O desafio: o Ironman começou há cerca de 3 meses com o convite feito pelo meu amigo Lomba, também ele candidato à prova e um homem de uma resistência, perseverança e capacidades física e mental invulgares. Esse convite foi extensivo ao nosso companheiro e amigo de jornada Pedro Quaresma, também ele possuidor duma tenacidade e capacidade de sofrimento muito acima da média. Depois vem a elaboração dum plano de trabalho para 10 semanas, tempo que mediava para a realização do evento. Elaborei um plano de treino de 2 ciclos de 5 semanas, contemplando a natação, a corrida e a bicicleta, com uma carga de treino máxima de 20 horas semanais, deixando alguns dias para regeneração. Cumprido o treino programado (por vezes excedido), parte dele efectuado com temperaturas pouco próprias devido às altas temperaturas da época estival, sentíamos alguma ansiedade, mas muita confiança para obter em Barcelona, prestações condizentes com o esforço e dedicação despendidos, embora neste tipo de provas exista um enorme grau de incerteza e imprevistos incontornáveis.
Na ante-véspera da prova iniciámos a viagem de 1.300 km de carrinha até ao local do evento. Foi uma viagem desgastante e cansativa, mas muito animada e de forte convívio. Chegámos já bastante tarde devido à distância e a vários engarrafamentos nas cidades mais densamente povoadas do país vizinho. A noite foi mal dormida por falta de adaptação ao local e devido ao stress pré-competitivo que já se fazia sentir. No dia seguinte, véspera da prova, após o pequeno almoço, começámos a sentir verdadeiramente o Ironman. Foi o levantamento dos dorsais e outro material de identificação, assistir ao briefing da prova, começar a preparação dos equipamentos com montagem das bicicletas e reconhecimento do percurso e ainda fazer o check-in das bicicletas, dado que no dia seguinte a prova tinha início às 7h30m, praticamente ao nascer do dia. O relógio não pára e os participantes também não: à que jantar e deitar cedo porque o pequeno almoço está marcado para as 5h30m da manhã. É preciso fazer a digestão antes de entrar na água e as reservas de hidratos de carbono são fundamentais para as horas de esforço que se avizinham. Vamos para a cama, mas não dormimos: o sistema nervoso, a adrenalina e o facto de estarmos em cama estranha, são as razões. O ritmo cardíaco aumenta sem motivo aparente.
Dia da prova: após o pequeno almoço bem farto, as várias centenas de atletas deslocam-se numa calma aparente, para a zona da prova, afim de verificarem pela última vez a localização dos seus equipamentos e ultimar alguns preparativos de última hora. A tensão aumenta com o aproximar do tiro de partida. Sem o demonstrarem, todos estão nervosos. Verifico o meu ritmo cardíaco que normalmente em repouso se situa nos 50 bpm, mas que no momento se situava acima dos 70 bpm. São desgastantes os últimos momentos... As partidas são efectuadas por vagas, espaçadas de 2 minutos devido ao n.º de participantes em prova. É para evitar confusões. Mas finalmente tudo isto se acaba: é dado o tiro de partida e começa a nossa luta contra o tempo. Saltamos para a água sabendo que o nosso esforço tem que ser muito bem gerido. Máxima concentração para não haver enganos e evitar as alforrecas, que abundam nestas águas. São 3.800 metros a nadar, mas é a parte mais fácil da prova. Senti um prazer enorme neste segmento. Sempre nas calmas, com outros parceiros por perto, sem confusões, mar calmo e temperatura muito agradável. Pensava fazer 1h15m neste segmento, quando saí da água tinha 1h17m o que considerei muito bom e ganhei um ânimo extra para o que vinha a seguir. Claro que a competição ainda mal tinha começado, mas a motivação estava intacta e cada vez me sentia mais confiante, pois a natação sempre fora o meu pior segmento.
No entanto, quando ponho os pés em terra, começam logo as contrariedades, o dorsal rasgou-se e estava solto dentro do fato isotérmico. Mais grave é que o mesmo é imprescindível e eu não tinha forma de o prender. Nestes momentos de competição em que todos os segundos contam, não podemos entrar em pânico, temos de pensar bem e agir rápido. Foi o que fiz. Meti o dorsal dentro dos calções e avancei para a bicicleta. Claro que o primeiro juiz que encontrei me perguntou de imediato pelo dorsal e lembrou-me que o mesmo tinha de estar colocado. Expliquei-lhe a razão e lá me deixou partir para o segmento de ciclismo. Situação que se veio a repetir ao longo do ciclismo por várias vezes, tendo novamente de explicar que o papel não tinha qualidade e se tinha rasgado, portanto ali não tinha condições de o levar colocado. Durante a corrida e para obviar a mais explicações, arranjei 2 alfinetes para garantir que em caso de necessidade pendurava o dorsal. O segmento de ciclismo ia decorrendo dentro da normalidade e sem muito desgaste. Sempre com muita atenção à hidratação que a organização fornecia como sejam água, fruta e produtos ricos em hidratos de carbono (líquidos, geles, barras energéticas). Mantive sempre uma média de 30 km/h e uma frequência de pedalada nas 80 rotações por minuto.
Findo o ciclismo vem a parte sempre mais difícil, que é o segmento de corrida. Se uma maratona só por si já é muito desgastante (já tinha a experiência de 8 ao longo de 20 anos). A maratona percorrida depois de mais de 7 horas de esforço competitivo, o seu grau de dificuldade sobe exponencialmente. Mas lá se vai! A vontade de chegar ao fim é muita. De início a corrida custa um pouco, é a fase de transição e de adaptação dos músculos a outro tipo de esforço. Passados alguns quilómetros lá entramos no ritmo, passada certinha, curta e decidida. Os quilómetros vão passando e a certeza de acabar o Ironman começa a pairar no nosso pensamento. No entanto as horas de esforço elevado já são muitas, o desgaste físico é enorme e o corpo começa a querer ceder. Ainda faltam alguns quilómetros e os últimos são os mais difíceis de percorrer. Olhamos para o lado e vemos centenas de "loucos" como nós, que há vários quilómetros atrás deixaram de correr para andar. O cansaço foi mais forte! Muitos vão mesmo ver o seu esforço sem glória porque não chegam ao fim antes da hora limite (meia-noite) e são desclassificados. Tudo nos vem ao pensamento durante tantas horas de "solidão", rodeados de tanta gente, mas a palavra desistir não faz parte do léxico destes seres (por vezes irracionais). Naqueles momentos de maior fraqueza, temos é que ser fortes e ter pensamentos positivos, porque a prova só começa verdadeiramente a partir dos 30 quilómetros de corrida. Os metros não passam, o coração já não aumenta o ritmo, as pernas só nos dão a informação de parar, mas a cabeça é que controla e ordena - É para continuar... não paras! Vale o nosso querer e as palavras de incentivo dos outros companheiros (vai!... está quase!... força!... ânimo!...), e do imenso público que durante todo o dia assiste ao espectáculo (grande generosidade a daquele público!). Vem-nos então à memória: - força que já só faltam X quilómetros! Mas a verdade é que estes cada vez custam mais a percorrer. Aos 35 km pensamos: está quase, mas o km 36 nunca mais aparece na imensidão daquela recta de 5 km. A situação vai-se repetindo km após km, o tempo a voar e o ritmo cardíaco já não passa os 124 bpm, o coração também começa a ceder! Chegados aos 40 km, que é outra grande referência nesta luta, e novamente o pensamento do optimista - áh campeão, está quase, só faltam 2 km! E lá vamos levando a cruz ao calvário, cada quilómetro percorrido é mais uma batalha ganha, mas estes parecem cada vez mais longos, até que... lá está a meta, a alegria, a satisfação e o sentir do dever cumprido começa a apoderar-se de nós, e pronto: é o máximo, é o aplauso, são sensações únicas que não têm explicação e só são entendíveis quando vividas na primeira pessoa.
Finalmente vem o desfrutar e a recuperação que é para mim a parte mais importante destes grandes desafios, porque só descansando e recuperando convenientemente podemos manter a qualidade de vida e ir planeando e realizando outros sonhos, sempre num processo de aprendizagem e tentativa de melhoria e superação. É evidente que estas conquistas são mais do que o trabalho e a dedicação de quem treina e planifica esse treino. São normalmente o resultado de uma equipa ou conjunto de pessoas que participam com o mesmo entusiasmo e dedicação, apoiando no que podem e quanto podem! No meu caso, dedico esta vitória e deixo um forte agradecimento: À minha família, que sem reservas, sempre me apoiou e compreendeu as minhas ausências, tendo inclusive estado ao meu lado durante estas longas 11 horas. Aos meus amigos do Fundão e Queluz que me acompanharam nos longos treinos que realizei, sempre com muita alegria, disponibilidade e vontade de ajudar. Aos meus companheiros de jornada que sempre mantiveram ânimo para treinar apesar do pouco tempo disponível, abdicando do merecido descanso das férias para assim poderem melhorar o seu nível físico. Por fim, mas não por último, ao Clube Millennium bcp que nos apoiou e deste modo tornou possível o nosso êxito.
Ainda: Para quem tiver curiosidade ou gostar de estudar estas coisas, aqui ficam alguns dados estatísticos da minha prova: nas últimas 10 semanas treinei 206 horas; tempo de treino máximo de bicicleta 5 horas, de corrida 2 horas e natação 1 hora; durante a prova, na bicicleta e na corrida, consumi 7074 calorias, sendo que demorei 1h17m na natação, 5h57m no ciclismo à média de 30,2 km/hora  e com uma frequência cardíaca média de 141 bpm; no atletismo efectuei a maratona em 3h52m, fcm 132 bpm e a 5 minutos e 31 segundos ao quilómetro; tempo de prova 11h7m11s, com 1.º lugar no meu escalão etário. Um abraço e até... à próxima.
Crónica de Pedro Quaresma OLYMPUS DIGITAL CAMERA
Por muitas provas que faça este meu primeiro Ironman ficará para sempre marcado na minha memória como um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Fazer o Ironman não é apenas um desafio físico, é um desafio total que põe à prova todas as nossas capacidades - físicas, emocionais e intelectuais. Pode parecer presunção minha, mas diria que é uma "forma de estar na vida" e que podemos viver a nossa vida todos os dias como "homens-de-ferro", senão reparem...
Fazer um Ironman era um dos meus projectos desportivos, ainda não tentados. O convite de um amigo (Lomba) foi o rastilho necessário para iniciar um processo de planeamento e preparação que contou também com a participação de muitos outros amigos. Tão importante como os amigos foi toda a família. Outro amigo (Feijão) adicionou a este conjunto de condições todo o seu conhecimento técnico de treinos e competição, preparando um plano de treinos que me acompanhou diariamente durante dez semanas e que tentei cumprir escrupulosamente, ajustando quando necessário.
Resumindo, tinha a motivação (o meu sonho de fazer um Ironman), tinha o suporte emocional dado pela família e amigos, tinha um plano de treinos que agregava o planeamento e o "know how" técnico necessário. Com a determinação do compromisso assumido "limitei-me" a cumprir o que disse que ia fazer, isto é, preparei todos os aspectos que estavam ao meu alcance garantir deixando apenas à sorte aqueles que não dependiam de mim.
Quando no dia 3 de Outubro me lancei à água, de imediato senti uma enorme tranquilidade e pude desfrutar de toda a preparação que tinha realizado. Por sorte, as condições atmosféricas foram excelentes e realmente estas eram as variáveis que não controlava. O segmento da natação realizou-se de uma forma perfeita e mentalmente comecei a preparar o segmento seguinte.
Os 180 km de bike apresentavam alguns desafios interessantes, sendo previsivelmente a modalidade em que teria mais dificuldades, dado apenas ter voltado a andar de bike para me preparar para esta prova. Tendo em conta que são muitos km, basta uma pequena diferença na velocidade média que conseguimos realizar para que o tempo final seja significativamente influenciado. Assim aconteceu e as seis horas que eu gostava de ter feito vão ficar para a próxima oportunidade. Em contrapartida, a gestão cautelosa que fiz do esforço neste segmento, permitiu chegar à última parte da prova sem problemas de maior.
No Ironman quando chegamos à parte da corrida as verdadeiras complicações começam e vem ao de cima o que fizemos de bom, ou de menos bom, na prova (gestão de esforço, hidratação e alimentação). Torna-se comum vermos atletas a andar a passo porque já não conseguem correr, outros que vomitam e até alguns que desfalecem devido ao esforço acumulado. Neste momento temos de apelar às nossas forças e à nossa determinação, nunca esquecendo de continuar a gerir com inteligência o nosso esforço, a fazermos a hidratação e a alimentação adequadas. A cada km que fazemos a confiança aumenta e o sofrimento também, mas nesta altura sinto que estou prestes a realizar o sonho...
Onze horas e trinta minutos depois de ter começado a prova concretizei o meu sonho de ser um "Ironman" e senti uma felicidade indescritível. Naquele instante pensei "Este Ironman foi feito por mim e com a ajuda de todos os que são importantes para mim"!
Obrigado a todos os que acreditaram, incentivaram e apoiaram os nossos sonhos, em especial os amigos e colegas do BCP, bem como ao Clube Millennium bcp que mais uma vez nos acompanhou neste projecto. Um obrigado especial ao Lomba e Feijão meus companheiros neste desafio por tudo o que de bom vivemos neste projecto. Nunca esquecerei!!! E o maior de todos os agradecimentos à minha família, que me apoiou incondicionalmente nesta "forma de estar na vida". Até ao próximo desafio!





































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