Temos os pontos de qualificação, marcámos as férias para o final de Agosto, estamos mentalizados para o desafio. Estão inscritos cerca de 40 portugueses? Isto não pode estar a acontecer...
Pois não! Vamos à “net”!!!
Temos alternativa! No mesmo fim-de-semana – Grand Raid des Pyrénées. São 160Kms com 9500 mts de acumulado positivo. Esta 3º edição será pois mais longa e inclui a subida ao Pic-du-midi com 2876mts, onde existem diversas instalações científicas, entra elas um observatório astronómico!
Partimos para França no dia 25 de Agosto – Gaby, Eduardo Ferreira, Vítor Gomes e Pedro Silva com a ajuda do Tozé na logística. Viagem sem sobressaltos, correu tudo bem até Vielle Aure, uma aldeia algures nos Altos Pirinéus, onde se localizava a partida e chegada desta prova que para nós se afigurava uma epopeia.
Verificação exaustiva do material obrigatório no secretariado, entrega dos sacos com mudas de roupa e alimentação para colocação aos 70 e aos 120kms. Os únicos portugueses presentes éramos nós e o Carlos Sá, homem de outra “divisão” e que também ficou de fora no sorteio do UTMB.
Sexta-feira, 27 de Agosto pelas 5h da madrugada é dada a partida aos 655 atletas que têm a partir de agora 50h para perfazer os 160kms!


Somos informados de que eventualmente não poderemos subir ao Pic-du-midi, devido a ventos de 120kms/h!
Começamos com uma atitude conservadora – a passo – está tudo por “fazer”, a maioria começa logo a correr, mas isto é para fazer com “cabeça”.
Deixamos a zona urbana e começamos logo a subir em direcção a uma estância de ski. Ao fim de cerca de 2h a Gaby começa a ficar estranhamente para trás, acompanho-a (Pedro Silva), e pergunto-lhe se está mal disposta, ao que me responde afirmativamente! Estamos por volta dos 1800m e está claro que está a ficar afectada pela altitude. Por volta do Km 9 está o Tozé a tirar fotos, quando os primeiros raios de sol surgem, e a Gaby tristemente decide ficar por ali. Entretanto o Vítor e o Eduardo seguiram e aguardam-me na primeira zona de assistência ao Km 12. Informo-os do sucedido e decidimos seguir os 3. Sou o penúltimo a chegar a este Controlo (CP1)!!
Tínhamos combinado nunca correr, mas onde o terreno permitia, lá íamos nós aproveitando as descidas. Estávamos agora em pleno contacto com a montanha, atravessávamos maioritariamente prados onde o gado pastava como que a querer suster o Verão, aproveitando estes pastos que hão-de ficar cobertos de branco. Chegamos à 2ª zona de assistência – Artigues ao km 29 – onde nos reencontramos com o Tozé e a Gaby, que já dormiu um pouco e está recomposta. Reabastecemos e encetamos a subida ao Pic-du-midi, são 11kms de subida e 1700mts de acumulado, pelo meio o caminho tem troços bastante técnicos que dificultam a progressão. Avistamos o famoso Observatório e somos sobrevoados por vários casais de águias com uma envergadura enorme (talvez 2 mts), daquelas que roubam os cabritos;-))
Chegamos a Col de Sencours, a organização informam-nos que é possível ir ao Pic-du-midi, “Yes”! São 3300mts sempre a subir por um estradão onde nos cruzamos com os atletas que regressam, nas bermas alguns atletas descansam, chegados lá acima, embora havendo alguma nebulosidade, a vista alcança até ao infinito!! Soberbo! Algumas fotos, marcar o controlo e toca a descer! Até perto do Km 75 será sempre a descer, havemos de pagar isto...!


Pelo meio passámos por Hautacam, onde mais uma vez o Tozé e a Gaby nos acompanharam e fotografaram! Para aqui chegar passámos por algumas subidas que a partida não seriam complicadas, mas havia zonas muito técnicas e já íamos com mais de um terço de prova, estávamos bem, mas as pernas já “falavam” connosco!
Dirigíamo-nos portanto para o km 75 onde era o primeiro grande abastecimento e tínhamos o primeiro saco, permitindo-nos trocar de roupa e calçado. Chegámos a Villelongue pouco depois de escurecer, apanhámos alguns estradões(!), sem problemas de maior. Estávamos inebriados com tanta natureza: lagos, prados, fragas, vida selvagem, enfim! Por outro lado, sobretudo os pés estavam a acusar o esforço, surgem as primeiras bolhas...
Estivemos cerca de 40 min. em Villelongue já era de noite, começamos a subir para Turon de Bene, uma noite fantástica, estávamos com um bom ritmo esta parte do percurso foi dos que mais gostei até Aulians eram estradões sem muita técnica, gostei, a noite estava espectacular, com uma Lua soberba a companhar-nos num céu quase livre de nuvens, e uma temperatura amena – nada mau! Passámos cerca de 50 concorrentes e fizemos 40 kms durante a noite! No entanto a fase final, desde o km 109 na estação de ski de Aulian, o caminho era um pouco traiçoeiro, no meio da erva escorregadia e em piso inclinado. Também pouco antes de chegar a Aulian fui atacado pelo sono, onde dormitei 5 min. E não mais!


Eis-nos chegados à 2ª grande zona de assistência em Luz Saint-Sauveur aos 120kms. Mais uma vez troco de meias e o sono teima em não me largar. Como um prato de massa, 2 copos de água com gás e mando-me para o chão junto a uma parede, mais 5 min.! Daqui para a frente não teria mais sono, mas o Eduardo também foi “atacado” da parte da tarde, o Vítor é que resistiu melhor.
Duas notas. Até aqui a alimentação foi adequada, uma vez que ninguém se ressentiu e já vamos com cerca de 30h de prova – canja, chouriço, bananas, cola, café, chá, água, frutos secos, pão, fiambre, gel e barras; o mais diversificado possível. Também não acusámos a altitude. Por outro lado a Gaby decidiu juntar-se a nós para os últimos 40kms e desafiar a montanha!
Agora, sábado a meio da manhã, éramos 4 novamente, seguíamos em direcção a Tournaboup, cerca de 12kms onde havia o penúltimo abastecimento. O caminho era fácil, mas havia muita moleza, nesta altura quem estaria melhor era o Vítor, mercê das suas pernas de gigante, lá ía trepando!
De Tournaboup para a frente era a última grande subida, já estávamos com 8000mts de acumulado positivo e 140kms feitos. Daqui até ao Col de Barèges foi sempre a andar bem, e depois a descida, mais uma dor de cabeça – muito técnica - finalmente chegámos ao último ponto de abastecimento no Restaurante Merlans, era quase noite e começava a cair um nevoeiro espesso.
Até à meta são 12kms, devemos ter corrido 8km. Ficámos espantados com o que ainda conseguimos correr!
Chegámos à meta após 41:16h.
Mais uma vez testámos os nossos limites! Impressionante o que se consegue aguentar!
Foi uma prova, em há a lamentar o abandono de uma Colega do grupo, mas que se “vingou” da montanha e fez os últimos 40kms com subida a 2500mts, sem queixas de altitude. Quanto a nós correu de um modo perfeito, onde todo um conjunto de factores permitiram um balanço muito positivo, pois a meteorologia esteve irrepreensível para estas paragens, a Organização funcionou impecavelmente, ninguém teve mazelas e no regresso já estávamos com saudades.
A acrescer, a prova foi ganha pelo outro (único) português. Parabéns Carlos Sá! E o UTMB foi anulado, é pena, mas se lá tivéssemos ido...
Algumas “estatísticas”:
Inscritos: 750
Partiram: 655
Terminaram:370 (56%)
Classificação:
Vitor Gomes: 41:10h – 214º
Pedro Silva: 41:16h – 217º
Eduardo Ferreira: 41:16 – 218º
Sites com as nossas fotos:
Fotos
Fotos Vitor Gomes
Fotos António Santos
Mapas do percurso e Altimetria
http://www.grandraidpyrenees.com/


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