segunda-feira, 28 de junho de 2010

ULTRA TRAIL SERRA DA FREITA - 2010

No briefing da prova deu para perceber que a mesma não iria ser fácil.
Durante 50 minutos foi-nos explicado como é que a corrida se iria desenrolar, as suas dificuldades e características, ficando no ar um aviso final por parte da Organização: “Quem não respeitar a Serra vai dar-se mal”.
A Alvorada  da prova foi às 4 da manhã: últimos preparativos, conferir novamente o material e ala que se faz tarde.
Saímos às 5 horas. Ainda era noite e, apesar da Lua cheia, todos optámos por usar frontal pois o caminho começa logo por ser técnico.
Arranquei muito cauteloso, sempre a pensar nos conselhos do EDU, e lá fomos os 5 elementos do Clube que iniciaram esta aventura: Pedro Silva, Hugo Luz, Fernando Alcides, Gaby e Manuel Pereira.
Logo no início o Pedro Silva junta-se aos homens da frente e só o iríamos encontrar novamente na chegada.
Os outros quatro mantivemo-nos junto durante 4 km, onde nos começámos a separar: o Manuel Pereira, mais lento, foi ficando para trás; o Fernando Alcides, mais rápido, foi acelerando o passo. Fiquei eu com a Gaby.
Começo a aperceber-me que a Gaby não está confortável com o andamento, espero que com o caminho mais técnico e a progressão mais lenta, ela recupere. Mas isso não acontece e quando começamos a descer para o Rio Paivô, a Gaby começa a amaldiçoar os ténis que trazia: os Asics Trabuco, que por sinal também me estão a causar estragos. Não são ténis para este tipo de prova pois são muito macios. Acabo por ter que fazer uma paragem para pôr um compeed na planta do pé, onde já se formava uma bolha. 
Lá continuamos e sensivelmente ao km 15, a Gaby, com o ar mais pesaroso do mundo diz-me que vai desistir. Eu compreendo: já a conheço há muito e percebo que ela não vem bem. Ainda lhe digo para fazer o percurso no leito do rio, ao que ele responde-me "nã, nã...”.
Quando saímos do asfalto encontramos uma carrinha da organização e Gaby fica lá.
Sempre preocupada dá-me os bastões dela e pronto tenho de ir. Comecei logo a perceber que o tempo era curto. Mandei-me ao rio e faço a travessia do leito, cerca de 2 km, em 45 minutos. Passei vários atletas e o meu primeiro erro na prova, foi não ter ficado com eles: fazer uma prova destas sozinho traz um desgaste acrescido.
Após o rio vem a famosa Garra. Uma subida duríssima. Controlo o ritmo sem entrar em exageros. Tenho que gerir a prova. Estava no km 30 e começo a pôr em dúvida se iria conseguir terminar a prova dentro do tempo limite.
Passo a Garra e começo a descer para Drave, uma aldeia abandonada onde se encontra uma abastecimento de líquidos. Aproveito para encher o “Camel Bag” e alimentar-me. Rejuvenesci pronto para atacar a subida de seguinte: cerca de 2 km, sem trilho, subindo pela laje xistosa que cobre a serra, debaixo do calor, que já aperta de uma maneira terrível.
Chego ao abastecimento dos 40 Km, onde é feito o controlo do equipamento. Aproveito para me refrescar e para me alimentar. São dois aspectos que não posso descurar.
Á saída deste posto aproveito a companhia de outros dois atletas. A partir daqui o percurso é diferente do ano anterior.
E começa um “carrossel” impressionante e interminável. A gestão do esforço vai ser fundamental e aqui vem-me à memória os conselhos do Francisco Reis (Hugo levanta a cabeça, não olhes para o chão, respira bem) e do Humberto Lomba (Hugo bebe de 15 em 15 minutos e come de 25 em 25). Ao contrário dos dois atletas que me acompanhavam não faço as subidas a correr; apenas ando, com a preciosa ajuda dos bastões. Recupero nos planos e nas descidas e lá apanho os outros atletas que me tinham fugido na subida. Conseguimos correr em grupo e vamos apanhando outros atletas, formando um verdadeiro pelotão.
Apesar de tudo estar a correr bem, começo a ficar “stressado”, com receio de não conseguirmos terminar a prova dentro do tempo limite. Começo a pressionar o grupo para irmos mais rápido (a experiência das provas de Aventura tem-me dado muita experiência na gestão de tempo nestas circunstâncias). Faltam 20 km e temos +- 5h00 horas para os fazer, mas o meu pressentimento diz-me que é curto.
Mais uma subida demoníaca, mais piso técnico, no sopé de uma montanha está outro atleta, completamente esgotado. Perguntamos se precisa de ajuda, diz que não, que são muitas subidas que  tem os quadricipes feitos “num 8”.
Eu estou bem ataco a subida num bom ritmo. O grupo está reduzido a quatro e vamos alternando na frente.
Nesta altura começa a chover forte e a cair granizo. Chegamos ao KM 60 e tínhamos +- 2h45 para  para terminar. É curto, penso.
Vamos do Km  61 ao 63 subimos dos 580 metros para os 1000, que dureza!
Chegamos, finalmente, ao último abastecimento, no km 65. Temos  1h30 para fazer 5 km., E aqui cometo o grande erro da prova: Não comi. Estava enjoado e só faltavam 5 Km!, pensei. Ia deitando tudo a perder!
É que faltava um “passeio”: descer da Freixa da Mizarela até lá abaixo e voltar a subir. Estava esgotado e senti a falta da alimentação.
A descida é dolorosa, as pernas têm dificuldade em dobrar, é uma dureza extrema.
Vem, finalmente a última subida. Os meus companheiros, mais fresco aceleram. Fico sozinho. Mais à frente sou apanhado por outro atleta e vamos os dois. Ele insiste: “.... vamos, vamos, vamos,....” , eu penso “... estou fraquinho....”. Fazemos a subida em 40 minutos e segue-se um plano. De repente vejo o Carlos da equipa de Aventura do Millennium bcp Porto que estava lá a ajudar na organização. Fico contente pois o fim devia de estar próximo do fim. Ele diz-me “Vamos falta só 1 km... “e vem ao meu lado a motivar-me. Vou a trote, estou a chegar vejo o Pedro Silva, que já havia chegado à horas, começa logo a gritar, “não te ponhas a chorar, que a tua mulher está a ali”, mordo os lábios ponho um sorriso forçado vejo a minha mulher, mais um bocado.... a META ! Nem queria acreditar! Acabei e ainda faltavam 20 minutos para o tempo limite.
Esta foi sem duvida a prova mais dura que fiz, não posso de deixar de referir na Grande Amiga que tenho, a GABY, que sabendo que não estava em condições ainda assim tentou para eu não fazer a prova sozinho, e isto é o exemplo da amizade deste grupo que nasceu na Aventura.
Obrigado a todos, pois se não fossem vocês nunca conseguiria estar aqui tão satisfeito e orgulhoso.
Obrigado aos atletas dos “Abutres”, e do “Porto Runners”, sobretudo na Pessoa do Pedro Amorim, que me acompanharam durante muitos km.

“Passarinho” (Hugo Luz)



























Sem comentários:

Enviar um comentário