domingo, 1 de junho de 2014

UTSM - ULTRA TRAIL SÃO MAMEDE – 100 KM - 2014

UTSM - ULTRA TRAIL SÃO MAMEDE – 100 KM - A primeira três dígitos…
O trail levou-nos a Portalegre, ao Ultra Trail de São Mamede, para mais uma das etapas do circuito nacional de trail organizado pela ATRP (Associação de Trail Running de Portugal), durante o fim de semana 1300 atletas participaram em três provas:
- 100 kms (D+3500M) – UTSM - partida às 0h00 de Sábado de Portalegre
· Prova a contar para o Circuito Nacional de Ultra Trail;
· Prova de apuramento do Campeão de Portugal de Ultra Trail;
· Prova qualificativa para o Ultra Trail du Mont-Blanc;
- 42 kms – TLSM - partida às 09h00 de Sábado da vila de Marvão;
- 25 kms – TCSM - partida às 10h00 de Sábado da vila de Castelo de Vide;
O Clube Millenniumbcp esteve presente com 10 atletas, todos na prova de 100 kms. Vou tentar relatar o que foi para mim essa prova, tentar porque tudo o que diga ou escreva nunca vai conseguir transmitir a totalidade do que senti durante o UTSM…
image
Na partida estiveram cerca de 700 “trailers” (de várias nacionalidades) para fazer 100 kms numa das regiões mais bonitas do país, o Parque Natural da Serra de São Mamede. A organização decidiu (e muito bem!) criar um espaço de convívio na zona da partida, um estádio de futebol com pista de tartan: muito bom ambiente! A ideia de fazerem um concerto até perto da hora da partida foi excelente!


Foi a primeira vez que fiz uma prova de 100 kms (na realidade 102,5 kms)…portanto, para mim, tudo era novidade…e acreditem, o primeiro km de uma prova desta distância é completamente diferente do km inicial de uma de 25…
image
Só a partida à meia-noite muda logo tudo: vermos cerca de 700 almas de frontal na cabeça a evoluir pelos montes alentejanos é de uma beleza fantástica…quase que nos esquecemos que vamos lá no meio, mas vamos, e é para isso que aqui estamos e treinámos.
Esta era uma prova que eu queria muito fazer pela aventura em si, por ser natural de Portalegre e pelo prazer de testar limites; mas que quase acabava nas subidas ao Parque Eólico por um erro de “menino”. Eu que sempre aconselho toda a gente a alimentar-se e a hidratar-se bem, cometi a proeza de não me “reforçar” antes das subiditas - cerca de 14kms a subir dos 400m até à altitude de 1025m, com percentagens de inclinação bastante elevadas! Lá consegui colar-me ao Veloso que passou por mim e rebocou até às Antenas, no alto de São Mamede.
image image

No PAC (zona de assistência) das Antenas acabei por alimentar-me bem e voltar novamente à minha estratégia alimentar (estamos com 30kms) - ficou o aviso para o futuro - aí encontrámos mais alguns elementos da equipa e fomos em ”formação cerrada” o que me ajudou bastante, pois foi uma excelente forma de avançar e recuperar o ritmo. Fomos assim até São Julião (40kms), com um excelente andamento, acreditem que naquelas encostas deixámos marca!
image image
Nas subidas após São Julião, senti-me extremamente bem (a alimentação em mim faz toda a diferença!) - subo sempre a um bom ritmo e a puxar. Temos uma visão fantástica de Marvão e de Espanha. Alguns de nós vêm com um ritmo mais forte e até ao Porto de Espada acabamos por nos dispersar, reencontramo-nos no PAC do Porto da Espada já com as bifanas à frente. Estamos com 50 kms.
Do Porto de Espada até Marvão temos algumas descidas e depois atacamos a subida até à vila. Sinto-me muito bem a subir e vou passando outros concorrentes! Subimos pela calçada medieval da Abegoa, que nos leva até perto da muralha, mas depois descemos e subimos e descemos e subimos e descemos e subimos…e lá acabamos por entrar no castelo pela Porta de Ródão. Km 60. Marvão é a zona de assistência onde se encontram os nossos sacos para as mudas de roupa e afins, sacos que previamente tínhamos entregue na zona de partida e que a organização transportou. Reponho a comida, aligeiro o equipamento porque íamos ter tempo quente pela frente, retiro da mochila de prova coisas que não vou necessitar, ponho protetor e estou pronto para partir sem perder muito tempo. Não me preocupo minimamente com os pés – tenho outro par de sapatos no saco e vários pares de meias, mas não achei necessário fazer a mudança pois sentia-me bem, sem qualquer dor ou desconforto, mais tarde irei pagar caro esse erro, foi uma lição dura! Como uma sopa, umas frutas frescas e uns frutos secos. Estou bem fisicamente e não me sinto cansado, arranco.
Descemos pela calçada medieval que vai ter à Portagem e seguimos para as Carreiras, pelo meio molhamos o pé no Sever e atravessamos um campo de golfe que se encontra ao abandono (uma pena…). Fazemos uma boa parte da subida para as Carreiras no alcatrão, aqui começo a ter os primeiros sinais que algo não está bem com os pés…continuo e acabo por colar a dois atletas. Eu e outro dos atletas acabamos por ir juntos até às Carreiras. Quando cheguei à aldeia levava um desconforto muito grande, mas tolerável. 70 kms.
A partir daqui mudou tudo! As dores foram aumentando e o desconforto era cada vez maior, e tornou-se quase impossível correr (eu com o problemas nos pés e o outro atleta com um problema no joelho). Mesmo a “andar” conseguimos imprimir um ritmo sempre forte e começámos a gerir os esforços como uma equipa para chegar ao fim. O calor foi aumentado gradualmente.
Em Castelo de Vide descansámos um pouco mais. Mais uma vez chegámos lá através de uma calçada medieval, andámos por rochas de granito, descemos por cordas…com o calor e com os pés “cozidos”, podem imaginar! No PAC nem quis tirar os sapatos com receio de já não os conseguir calçar. Cerca de 80kms.
Vamos na direção do Convento da Provença, nesta altura eu mal consigo apoiar os pés no chão, acabo por ter de parar e tirar os sapatos; os pés estão uma lástima…mudo para umas meias curtas e secas que trazia na mochila e continuamos. Não melhorou quase nada. A cerca de 2 kms do PAC peço ao outro atleta para seguir sozinho, eu só ia a atrasá-lo – quase tive de lhe atirar pedras para ele se ir embora…obrigado! – e prometi-lhe que não desistia. No meio disto tudo mudo o chip, esqueço os tempos de prova e oriento-me pelo Sol, só queria chegar antes do pôr-do –Sol! A energia que a Lua cheia me deu à noite teria que durar para chegar antes do Sol se pôr. Acabei por me arrastar até ao Convento da Provença onde estava o penúltimo PAC…90kms. Recebo tratamento médico – os massagistas/enfermeiros de uma das equipas da frente estavam lá para acompanhar os últimos atletas deles…ajudam-me. Limpam o melhor que podem a planta dos pés e enfaixam-nas de forma a tornar o mais confortável possível os kms que me faltam até à meta. Demoro tempo. Como pizza. Aqui acabo por encontrar uma atleta que conheço e que também vinha com problemas nos pés desde Marvão, pelo menos…
Eu e essa atleta partimos juntos em direção à Serra da Penha…ela é um poço de energia condensado em meio palmo de mulher! Sigo com ela até perto das rochas que suportam a cruz, depois peço-lhe para seguir sozinha para eu não a atrasar. Lá chego ao PAC da Penha. Mais uma vez demoro na assistência. Desço as escadas, 270, uma a uma, muito lentamente, cada vez que pouso o pé parece que a sola entra pela carne adentro. Acabo por me arrastar durante 5kms até ao estádio onde consigo cortar a meta ainda com o Sol no céu, tinha conseguido o único objetivo a que podia almejar depois do que me aconteceu…para além de terminar a prova!!! – todos os que passaram por mim nesta parte final do trajeto tentaram rebocar-me no bom espírito do trail…
image
Em jeito de conclusão, esta foi uma prova bastante difícil! Muito dura! Pela distância, pelas subidas, pelo calor, foi uma prova de superação! Dos 702 concorrentes que iniciaram a prova apenas 430 terminaram, entre eles estavam todos os “Millennium” - como várias vezes ouvi às pessoas que nos apoiaram e aplaudiram por onde passámos, sempre com um “força” ou “vai” antes do nome.
image image
Como prémio “finisher” recebemos uma medalha de cortiça (uma matéria prima muito comum e importante na região) alusiva ao feito…100 km!! A minha primeira três dígitos!
Aos meus companheiros de jornada, iria já amanhã fazer outra prova com vocês!
Os meus parabéns, juntos fomos fortes!
Um abraço a todos!
Pedro Cordas
Altimetria da prova:
As classificações foram as seguintes:
189 Miguel Cruz 17:39:27
234 Fernando Rodrigues 18:42:39
276 Pedro Cordas 19:40:44
302 Eduardo Rodrigues 19:59:18
303 Pedro Neves 19:59:25
304 Helder Baptista 20:00:06
339 José Farinha 20:40:42
340 António Veloso 20:40:48
341 Rui Ramalho 20:40:49
384 Sandro Jordão 22:03:35

Fotos e vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=8SOtLS5PvxU
https://picasaweb.google.com/112783433689578180526/TrailDeSaoMamede118DeMaioDe2014?authuser=0&authkey=Gv1sRgCLXJ2szlu--wiAE&feat=directlink
https://picasaweb.google.com/112783433689578180526/TrailDePortalegre218DeMaioDe2014?authuser=0&authkey=Gv1sRgCImL-rPnneG9vAE&feat=directlink
https://plus.google.com/photos/109215449995288364783/albums/6014691346297986113#photos/109215449995288364783/albums/6014691346297986113


Relato Sandro Jordão

Portalegre, 17 de Maio de 2014, 00:00. Lua cheia. 570 corajosos na linha de partida. Entre eles muitos amigos. Das Caldas e arredores vieram os primos Paulo e Rui Santos, o Ricardo Diez, o Zé Duarte, os manos Serrazina, o Luís Nunes, o Marcus, o Telmo, o Cadima, o Carlos Alegre e o Hugo Barqueiro. Do Clube Millennium BCP uma equipa de luxo composta pelo Pedro Cordas, o Alcides, o Miguel, o Veloso, o Hélder, o Rui Ramalho, o Eduardo Rodrigues, o Pedro Neves e o Farinha, a que se juntaram o João Figueiredo. Escusado será dizer que TODOS terminaram a prova, o que representa mais um grande resultado para o Clube Millennium BCP.
A adrenalina de ir correr cento e picos quilómetros por caminhos, trilhos e estradas do Parque Natural da Serra de São Mamede, com passagem por Marvão e Castelo de Vide, impede que o sono se manifeste em mais do que 2 ou 3 bocejos passageiros, pese embora não ter dormido nada durante a tarde/noite. O concerto que está a decorrer (uma competente banda de covers de Pink Floyd) também ajuda. Por esta altura nem nas minhas piores previsões poderia supor que só passadas 22 horas é que voltaria a pisar o tartan da pista do Estádio dos Assentos mas… vamos por partes.
Começo lento até ao Reguengo no meio de um pelotão compacto que avança aos soluços por entre passagens estreitas e cursos de água. Está muita poeira no ar e uma temperatura elevada para a hora, cerca de 16 graus. No primeiro abastecimento bebo um café, como uma boleima e sigo com o Paulo Santos rumo ao Alegrete. Começo a sentir azia mas uma pastilha resolve o problema de imediato. É agora possível rolar um pouco mais e acelero encontrando pela 1.ª vez o pessoal do Clube Millennium que se vinha agrupando sob a liderança do Rui Ramalho. Vem aí a subida até ao alto de São Mamede cujo topo (1.015 metros de altitude) atingimos um pouco antes das 05:00. 30K já estavam e sentia-me bem tendo seguido com o Miguel e o Hélder até São Julião. Avistámos um atleta no chão enrolado na manta térmica (um item indispensável pois nunca sabemos quando é que nos pode calhar um azar semelhante) e certificámos-nos que ficava bem antes de continuar. Foi apenas um entre 157 participantes que acabaram por ter desistir o que atesta bem a dureza do percurso. Entretanto esfriara um pouco (finalmente!) mas seria sol de pouca dura até porque o astro em causa nasceu precisamente na chegada ao abastecimento, eram 06:15. Pela primeira vez senti necessidade de me sentar (a partir daqui aconteceria em todos os abastecimentos) e ao invés de seguir com o Miguel (que nunca mais veria) e o Hélder (que viríamos a incorporar no pelotão passado um pouco pois abrandara devido ao sono) optei por descansar e aguardar pela chegada do resto da equipa. Fomos em bom ritmo até ao Porto da Espada onde nos mimaram com bifanas. Foi uma etapa desportiva mas também cultural pois o Pedro Cordas, natural da zona, foi-nos contando tudo sobre as paisagens que nos rodeavam, obrigado. 50K já estavam mas o próximo objetivo era ambicioso: chegar a Marvão numa altura em que o calor começava a apertar. É por esta altura que encontramos a Mafalda Faria, ainda com muita energia e boa disposição. Não sei se foi da bifana mas voltei a acelerar nesta fase. A fuga ainda durou meia dúzia de quilómetros mas aos poucos fui baixando o ritmo. O Pedro foi o primeiro a passar-me e foi a custo que consegui acompanhar o Eduardo e o Alcides na interminável subida ao castelo. Foram muitas as vezes em que estando a centímetros da muralha voltávamos a descer para depois realizar nova subida mas lá entramos finalmente no castelo pela Porta de Rodão.
61K em pouco mais de 10 horas era um feito mas o cansaço acumulado já era mais do que o desejado pelo que o pior estava mesmo para vir. Em Marvão tivemos a possibilidade de trocar de roupa e foi o que fiz (chapéu, t-shirt, meias e sapatilhas). Descansei. Coloquei protetor solar e vaselina. Descansei. Comi uma sopa e batatas fritas. Descansei. E com isto foram mais de 40 minutos parado! Os 10km seguintes trouxeram uma descida em calçada romana até Portagem que deu cabo do que restava dos meus pés e começaram a formar-se bolhas em catadupa. O calor intenso (32 graus) propiciou o surgimento das primeiras assaduras. Não valeu de nada a troca de sapatilhas e se pudesse voltar atrás não trocava.
Se até ao abastecimento em Carreiras já caminhava muito mais do que corria a partir daí não mais voltei a correr. Foram 9 longas horas para fazer pouco mais de 30K em que fui ultrapassado por dezenas de atletas, nomeadamente o Telmo (que ia muito bem) isto já depois de termos passado perto de Castelo de Vide (a chegada ao abastecimento entre rochas e com recurso a cordas foi penoso). Aos 83K, quando já estava a desidratar num abastecimento intermédio, fui “rebocado” pelo Paulo Santos que solidariamente caminhou comigo quase até aos 90K, obrigado. Tive de lhe prometer que não desistia e lá foi ele, tendo chegado à meta à hora de jantar. Entretanto acabou a bateria do relógio GPS. Também já tinha perdido a cábula com a distância e altimetria do percurso. Paciência, para a frente é que era caminho, mesmo que fosse a 3 quilómetros por hora. No abastecimento do Convento da Provença, onde comi pizza, fui apanhado pelo último grupo do Clube Millennium composto pelo Rui Ramalho, o Farinha e o Veloso e ainda tentei seguir com eles mas mesmo estando eles também a caminhar como eu a diferença na passada era brutal e rapidamente os perdi de vista. Algum alcatrão depois e após muitas deambulações pela Serra da Penha chego ainda de dia ao último abastecimento (Ermida da Penha). Está lá alguém deitado no chão e enroscado numa manta naquilo que parecia ser uma bela soneca. Aproximei-me e era o Telmo mas não estava a dormir, estava era a ver se conseguia recuperar de uma indisposição que trazia à vários quilómetros atrás. Não aguentava nada no estomago. Queria vir comigo mas não conseguia, só vomitava. Eu só por ver comecei também a ficar mal disposto e quase tive uma quebra de tensão. Benditos pacotes de açúcar que trago sempre comigo. Desistir é dificílimo (eu nunca consegui tomar essa decisão e já tive ocasiões em seria sem dúvida o mais acertado a fazer) ainda mais quando já se percorreram quase 100K pelo que compreendi perfeitamente a relutância do Telmo mas no fim lá o convencemos, eu e o pessoal da organização, a tomar a penosa mas sem dúvida acertada decisão. Passam 2 minutos das 20:00 e continuo. Seguiram-se 270 degraus de escadas e um interminável percurso de alcatrão. Recebo várias chamadas de amigos que estranharam ainda não ter chegado mas descansei-os. Ei-de cortar a meta nem que seja às 23:59. Cai a noite e recoloco o frontal. No chão leio indicações de que faltam 4K. Depois 3K, 2K e finalmente 1K. Não sei se foi imaginação minha mas sou capaz de jurar que vi escrita mais de uma vez a indicação do último quilómetro. Cada vez que passava por alguém da organização perguntava quanto faltava. Eles apoiavam (e muito) mas a resposta nunca me agradava, a última falava em 400 metros e eu sempre a sentir que estava a fazer muito mais. Estar supostamente tão perto e não ver o estádio ainda me impacientava mais. Não consigo descrever em palavras o quão exausto estava naqueles metros finais mas eis que finalmente vejo o estádio e a Celina, à entrada, à minha espera. Estou radiante. Faço um esforço final para dar a volta de honra ao estádio e, pasme-se, ainda corro nos últimos 20 metros antes de cortar a meta onde me esperavam a Ana, o Paulo, o Rui, o Diez, o Cadima e o Stefan.
Terminei a prova por pura teimosia. Sou resiliente e nunca duvidei que seria finisher independentemente estar completamente “feito num oito” desde os 70K. Faltou-me arte e engenho para gerir 100K mas retirei daqui bastantes ilações para o futuro. O UTSM, cuja organização foi irrepreensível, foi mais uma etapa rumo ao objetivo das 100 milhas. Haja pernas que a vontade é inquebrantável!





ULTRA TRAIL DE S. MAMEDE  2014  - 100 km  by António Veloso

Realizou-se no passado Fim de Semana de 17 de Maio,  o Ultra-Trail da Serra de São Mamede ( UTSM ), prova organizada pelo  Atletismo Clube de Portalegre e com a colaboração dos municípios de Portalegre, Castelo de Vide e Marvão e de diversas entidades e associações.

Prova com interesse relevante dado que se tratava de uma PROVA QUALIFICATIVA PARA O THE NORTH FACE® ULTRA-TRAIL DU MONT-BLANC® 

Todos os atletas que se classificassem no Ultra-Trail da Serra de São Mamede recebiam 3 pontos para o registo na edição de 2015 do UTMB.
Esta prova contava ainda para  O CIRCUITO NACIONAL DE ULTRA TRAIL DA ASSOCIAÇÃO DE TRAIL RUNNING DE PORTUGAL

A edição de 2014 do UTSM será uma das sete provas pontuáveis para o Circuito Nacional de Ultra Trail e recebeu a classificação UT/D (Ultra Trail Difícil).
Estiveram à partida  702 atletas, a maior parte nacionais, evidentemente, mas também um bom numero de espanhóis.

Quando me propuseram escrever algumas linhas sobre esta prova fiquei na dúvida de como abordaria o tema.

Podia escrevê-la passo a passo, do Km 0 ao Km 100 ( Na verdade foram 102,5 ) ; aquilo que aconteceu nos 10 PAC’s ( Posto de Abastecimento e Controlo ) ;  que tinha começado às 00:00 do dia 17/05 – um sábado ; que foi muito difícil ; que tinha um grau de exigência muito grande ; que eram mais de 7 ou 8 “empenos” de não sei quantas centenas de metros de altura ; que estava imenso calor  –  cerca   de 30º C … … … enfim, tudo aquilo que parece muito difícil.
Mas não, não irei por aqui.
Vou  sintetizar o que foi a minha primeira prova de 3 dígitos – 100 Km.
Nunca tinha feito uma distância em Trail superior a 55 Km !!! Bom, pensei eu meses antes da prova, quem faz 55 Km  facilmente consegue correr 100 Km.
Pois é  !!! Ideia absolutamente naïf e certamente utópica .
Um prova com três dígitos é uma verdadeira prova de superação física e mental. É  atingir os limites , a luta constante para resistir, o vencer sucessivas barreiras, as metas que se conquistam Km a Km. Resumindo :  é usar a mente para gerir corretamente o corpo …   
Primeira enorme dificuldade : São Mamede inicia-se às 24H  algo que é contranatura.
Quando o corpo começa a pedir descanso, eis-nos à partida dispostos a correr uma distância que nos parece impensável ao comum dos mortais.
Os primeiros kms parecem fáceis, está ainda tudo muito fresco, com forças quanto baste para vencer as primeiras dificuldades. E elas apareceram quando começámos a subir para o Parque Eólico e depois um pouco mais à frente até às famosas Antenas. E já estávamos a uma altitude de 1.050 m,  já com 30 Kms  percorridos e por volta das 5 horas da manhã.
A noite passou finalmente sem qualquer percalço de maior. Tudo correu como previsto, com muito cuidado não fosse uma queda deitar tudo a perder.
Não poderei descrever por palavras o amanhecer em prova. Absolutamente fantástico e indiscritível . O ar fresco, o perfume tão característico do campo, a luz, sim finalmente a luz natural. Maravilhoso !  Mas …  mal me lembrava do calor que aí vinha !
Agora é que a prova iria começar a sério. Por volta do final da manhã avistamos Marvão ao longe, ainda de uma encosta sobranceira. Não, pensei eu,  não vai ser possível subir àquela bonita vila amuralhada. Estávamos com aproximadamente  60 Km. Para mim foi o maior desafio da prova - a subida até Marvão. Trepámos inicialmente por estradão, passando a trilho muito técnico, depois pedra, pedra e mais pedra e por fim mato.
Foi uma subida tão dura que me levou a pensar em desistir. Sim . Sem vergonhas. Porquê ? Não se pode enunciar esta palavra ? Eu sei que para os “puristas” do desporto esta é uma palavra que não se encontra no seu léxico.  Mas esta ideia passou-me pela mente.  A meio da subida decidi “estacionar” na encosta para descansar e recuperar as forças . Só queria atingir a vila, neste caso o PAC 6  para solicitar a minha desistência e a consequente “boleia” de carro da Organização para Portalegre. Valeu-me o “Mister” ( Rui Ramalho) que a mais de 50 m me dizia “ … olha eu fico aqui à espera o tempo que for preciso … mas despacha-te lá …  !“ .
Para esta decisão ( a da desistência ) muito influenciaram questões de cadência inicial elevada e alimentação muito deficitária entre os abastecimentos e nos abastecimentos. Mas a prova inicial serve mesmo para isto – fazer o balanço do que correu menos bem e corrigir futuramente.   
Com muito pouca vontade , mas muita insistência do Rui Ramalho , juntando-se depois o José Farinha que me pediu para não me precipitar na decisão da desistência, lá continuei …  agora com uma temperatura algo elevada, principalmente em zonas de descampado.
Atingiu-se, então,  o PAC 7 com cerca de 70 Kms . A partir daqui parou a corrida. Do PAC 7 até ao final fomos a passo rápido. Já não me era possível correr. Ou melhor, ainda seria possível , mas sentia que a qualquer momento caía exausto.  Era um cansaço físico, aeróbico, mental. Eram as bolhas nos pés, muito por culpa das sucessivas passagens por cursos de água, ribeiros e pequenos riachos, onde inevitavelmente tínhamos que molhar os pés.
Entre os 10 e os 5 Km finais começa a nascer uma nova alma, um ânimo extra que nos traz as forças necessárias para atingirmos o Estádio. Avistamos ao longe Portalegre e pensei : … está feita !!! Finalmente vou acabar os 100 Km . Os últimos Kms são tão penosos que parecem uma eternidade. Na verdade fomos brindados com 102.5 Km e lá entrávamos no Estádio Eduardo de Sousa Lima em Assentos para a volta de consagração antes do insuflável da meta .   
Foi uma jornada épica dado que todos os atletas do Millenniumbcp – 10 ao todo e mais dois Amigos, o João Figueiredo e o José Mascarenhas – chegaram ao final.

PARABÉNS a todos pela sua grande prestação na referida prova de Trail.

Os agradecimentos muito especiais ao Milllenniumbcp e ao responsável pela modalidade de Trail  – Eduardo Ferreira – que nos disponibilizou o transporte  para Portalegre além de outras despesas inerentes a esta deslocação. Muito obrigado.

Por fim a classificação e os tempos efetuados :

Partiram 702 atletas tendo chegado 430 ao seu final.

Class. Geral       Nome                     Tempo de Chip

189
Miguel Cruz
17:39:27
234
Fernando Rodrigues
18:42:39
276
Pedro Cordas
19:40:44
302
Eduardo Rodrigues
19:59:18
303
Pedro Neves
19:59:25
304
Hélder Baptista
20:00:06
339
José Farinha
20:40:42
340
António Veloso
20:40:48
341
Rui Ramalho
20:40:49
384
Sandro Jordão
22:03:35

 
     


Antonio Rui Veloso


Sem comentários:

Enviar um comentário