quarta-feira, 18 de julho de 2012

ANDORRA - 2012

Provavelmente os 35 km mais duros que alguma vez fiz e que vou fazer…
É, são, sem dúvida, pelo menos para mim, os 35 km mais duros que alguma fez fiz!. Mas vamos ao relato.
O Clube Millenniumbcp, fez-se representar em Andorra, com 3 atletas. Com o intuito de acompanhar o Vítor Gomes, este sim um verdadeiro HEROI e CAMPEÃO!!, pois realizou aquela que é a prova mais dura que existe na Europa (170 km em Andorra, com 13.000m de D+), eu e o António José Santos (Tó-Zé para os Amigos), efectuamos no sábado dia 7 de Julho de 2012, com início às 9.00h (hora local, 8.00 em Portugal) uma das provas inseridas na prova “rainha” (os tais 170 km), a prova dos 35 km. Ou seja, a prova mais pequena das 4 que se estavam a realizar ao mesmo tempo. Para além da prova dos 35 km e dos 170 km, havia também uma de 112 km e outra de 83 km e ainda uma caminhada de 10 km.
Saímos de “Ordino” (Andorra) em autocarros que nos iriam levar à zona da partida. Serra acima, lá fomos para o local da partida “Coll de la Botella” a 2.064m de altitude (uma das muitas pistas de esqui que existem em Andorra). Chegámos a “Coll de la Botella” cerca das 8.30h. Já tínhamos estado aqui na noite anterior a fim de darmos algum animo e suporte/assistência ao Vítor. Tempo para tirar umas fotografias. A paisagem é fantástica! Com a chegada das 9.00h os atletas perfilam-se para a saída. São cerca de 400, os atletas que estão inscritos para esta prova.
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Às 9.00h é dada a saída. Lá vamos em direcção a “Port Negre” que fica a 2.490m. Estamos com 43m.47seg. e com 3.14km. Já deu para ver que a progressão vai ser lenta…. Depois de uma ligeira descida, acima dos 2.500m, iniciamos uma subida que nos leva até “Portella Sanfons”, que fica a 2.568m. Chegados aqui, estamos com 1h de corrida e 4.45km percorridos. O piso já deu também para ver, é agreste. Muita pedra solta, rocha e raízes de árvores e arbustos. Estão reunidas todas as condições para que a progressão seja mais lenta do que estávamos à espera. Pelo menos para mim…


A partir daqui iniciamos uma descida técnica com nos há-de levar ao refúgio de “Comapedrosa”, onde está o 1.º abastecimento sólido e líquido. Como disse, descemos até aos 2.255m, percorremos 6.17km e 1h.15m.
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Abastecidos, damos início à maior subida que existe na prova, ou seja, vamos ao pico de “Comapedrosa” (este trajecto é comum a todas as provas, excepção feita à corrida dos 83 km e à caminhada). Alguns fizeram-na de dia, outros houve que a fizeram de noite). Este encontra-se a 2.964m, o ponto mais alto de Andorra. A subida é quase indiscritível, tal a dureza da mesma. Começamos por um trilho em terra com algumas raízes e pedras soltas. A subida propriamente dita ao pico de “Comapredrosa”, efectua-se através de rochas, pedras de grande porte soltas e pedras de médio porte. Aliada à dureza da subida a altitude, onde a respiração se torna ofegante. É, foi, a subida com maior inclinação, maior perigosidade que alguma vez fiz. Não há quase tempo para olhar para mais nada a não ser o trilho que estamos a subir. A atenção está toda concentrada no trilho que está devidamente assinalado e é uma mistura de trilho em terra com rocha e pdra solta. Há partes do trilho que são feitas como se escalada se tratasse, ou seja, com os pés e mãos a ajudar. Apesar de levarmos bastões, estes nesta altura de pouco servem. Chegamos ao pico de “Comapedrosa” com 9,63km e 2h.33m. Para fazermos 3.46km, demorámos quase 1h.20m. o Tó-Zé já lá estava há uns minutos. Fotografia da praxe e preparar para descer.

Se a subida, pelo atrás descrito, foi o que foi, depois veio a descida. A determinada altura já não sabia se era melhor subir se descer, tal a dificuldade técnica. A descida foi na 1.ª parte feita num misto de pedra solta e rocha, com uma inclinação, que lhe vou chamar “engraçada”. Vinha um atleta, que presumo fosse espanhol, atrás de mim, que me começa a dar umas dicas como devia descer naquele tipo de piso. Este mesmo atleta deu uma queda à minha frente, que eu pensava, desculpem a expressão, que se tinha partido todo. Tal a violência e embate da queda. Conhecem os “flippers” e a bola a bater de uma lado para o outro?, assim foi a queda deste atleta. De rocha em rocha até a parar. Perguntei-lhe se estava tudo bem, ao que ele retorquiu, que sim e lá foi encosta abaixo. O Tó-Zé também desce bem, eu nem por isso e como tal de tempos a tempo lá esperava por mim…. A determinada altura da descida, neve!! E há que passar por cima dela, pois o trilho é por ali que passa. Grandes paisagens, com lagos e montanha. Um verdadeiro espectáculo!!! Parte do trilho é comum, quer na subida quer na descida, para nos trazer novamente ao refúgio de “Comapedrosa” e ao 2.º abastecimento sólido e líquido. Voltamos a estar nos 2.255m, agora com 13.38km e 3h.30m de prova.
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Continuamos a descer, pelo caminho vamos apanhando pessoas que estão a fazer caminhadas e ou como no caso de 3 italianas que iam carregadas cada uma com a sua mochila, que deviam de andar a acampar de refúgio para refúgio. A descida é acentuada e como já atrás foi descrito o tipo de piso mantêm-se. Dureza!!, pura e dura!! (passo o pleonasmo). No meio por causa do calor e como estávamos a descer, fomos obrigados a tirar a camisola de 1.ª camada. O sol não dava tréguas.

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Chegamos ao ponto mais baixo da corrida “Aigues Juntes”, estamos nos 1.763m, foram percorridos pouco mais de 15km, mais precisamente 15.78km e gastámos até agora 4h.14m..
Damos início a uma subida que nos irá levar ao refúgio “Pla Estany”. A progressão é muito lenta. Há sítios na subida que chegamos a andar a 33m/km. Fazemos, aquilo que me parece ser um corta-fogo com uma inclinação de cerca de 27%. À que parar a meio, respirar com calma ingerir um gel e retomar o andamento. Sim andamento, nunca me passaria pela cabeça correr aqui….
Chegamos ao refúgio de “Pla Estany” e estamos nos 2.051m com 17.83km e com 5h. certas de corrida. Nova abastecimento líquido e sólido e último que iremos encontrar ao longo da corrida e ainda só estamos a sensivelmente a meio da corrida. Ainda não acabaram as subidas.
Saímos e iniciamos um trajecto que não tem praticamente altimetria, por vezes até descemos uns metros, conseguimos correr em algumas partes do mesmo. O chamado “passeio à cota”. Este trajecto trazer-nos-há até “Bords Prats Nous”, estamos com 20.66km, em 5h.38m e com uma altitude de 2.025m.
Aqui começamos uma subida de 3km como eu nunca tinha feito. Subimos dos 2.025m, para os 2.578m, os tais 3km, nada mais nada menos do que em 1h.11m!!!, é brutal esta subida. Estamos no pico de “Clot Cavall”. Há atletas que param pelo caminho, sentam-se, descansam e arrancam de novo. Pelo meio existe mais um ponto de controlo. Onde com alguma “música”, perdoem a expressão, conseguimos que nos disponibilizem ½ litro de água a cada um de nós. Está calor, apesar de estarmos acima dos 2.500m, e estamos a consumir muita água.

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Iniciamos agora aquela que é a descida que nos há-de trazer a “casa”. Vão ser 12km sempre a descer. Já não há subidas!!, apesar disso os 2/3km são extremamente técnicos, aliás como todas as descidas realizadas até aqui. A determinada altura da descida estão cavalos selvagens a pastar. Todo o que rodeia toda a envolvente desta serra, só tem uma palavra. Espectáculo!!
Num dos ribeiros que corre serra abaixo, o Tó-Zé enche a garrafa com água. Está fria e vai ser de uma ajuda de extrema importância na parte final da corrida.
Nesta descida somos passados por alguns atletas. A descida, agora, em termos de dureza começa a aliviar. Estamos a chegar a “Llorts”. Estamos com 28,76km e 8h.16m e com 1.410m de altitude. Daqui até à meta que se encontra instalada em “Ordino” é quase sempre a correr e a bom ritmo. Para além de passarmos os atletas que nos tinham passado, ainda passamos mais alguns pelo caminho. A garrafa que o Tó-Zé encheu, para além de dar para beber uns goles, deu para molhar as pernas, tal era o aquecimento que levavam!!
Chegamos a “Ordino” com 8h.51m de prova e 35km realizados numa das serras mais fantásticas que tive oportunidade de conhecer. Não fomos os primeiros, tão pouco fomos os últimos, ficamos um bocado abaixo do meio da tabela, mas não dava para mais.
Correu tudo bem. Não caímos durante todo o trajecto, apesar de algumas ameaças. Não nos aleijamos que era o mais importante.
A prova, apesar de 35km, não é demais referi-lo é de uma beleza e fantásticas paisagens!!. Está bem organizada. Estamos em alta montanha. Nada falha. Foram evacuados atletas de helicóptero por se sentirem mal. Entre eles um português. Este é só um dos exemplos. Outro, no pico de “Comapedrosa”, estão socorristas com todo o tipo de material para uma intervenção rápida. Desfibrilhador, equipamento para medir a tensão e glicémia. Para efectuar qualquer curativo aos pés, mãos, o que seja. Este material é lá colocado de helicóptero.
Os abastecimentos na nossa prova, quer sólidos, quer líquidos estiveram bem. Água, coca-cola, bebidas isotónicas, pão, frutos secos, bananas, laranjas, bolachas, etc.
Uma organização exemplar na prova dos 35km!!
Não posso deixar de acabar este meu relato, sem novamente dar os parabéns ao Vítor Gomes. Fez a prova de 170km, como já tinha dito atrás, em 57h.01m!!. Foi, é, um privilégio compartir algumas horas com o Vítor. É sem dúvida alguma, um grande, grande, TRAILISTA e um grande AMIGO!!!. Um atleta EXCEPCIONAL!!.
Já houve muitos que acabaram esta prova (170km), pese embora só ter 3 edições. Haverá, com certeza, outros que a vão fazer e irão acabar. É sem dúvida nenhuma a prova mais dura que existe na Europa!!.

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