quinta-feira, 2 de outubro de 2014

5º TRAIL DO ALMONDA

clip_image002No dia 06.07.2014 realizei a minha primeira prova de Trail Running na majestosa Serra D`Aire e Candeeiros – região de Torres Novas.

A 5ª edição desta prova inseria-se no circuito nacional de Trail e foi organizada pela TurrisEspaços.

O local de início e fim da prova era o Centro Escolar da Serra d’Aire (CESA) em Pedrógão.

Marcaram presença 316 atletas, dos quais 276 atletas masculinos e 39 atletas femininos. O Clube MillenniumBCP fez-se representar por 5 atletas: Armando Lima, Paulo Caetano, Fernando Sousa, Pedro Cordas e Filipa Vilar.

Nas últimas semanas os relatos da prova eram sempre os mesmos…”muito calor”, “temperaturas de 40 graus”,”muita pedra e calhaus soltos”, “primeiros 10 kms são rolantes, os segundos são empenantes e os terceiros sacrificantes”.

Acordei as 6H, equipei-me, alimentei-me e saí ao encontro do Fernando Sousa e do Pedro Cordas com quem tinha combinado “partilhar” a viagem. Ao sair de casa verifiquei que o tempo estava enevoado e caía uma chuva miudinha. Durante toda a viagem foi este o tempo que nos acompanhou. Chegamos às 7H40 à CESA e fomos levantar os dorsais e t-shirt da prova. Regressámos ao carro para acabar de equipar e preparar as mochilas para a prova.

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A chuva começou a intensificar ao mesmo tempo que chegavam mais atletas. Tirámos as fotos da praxe para futura recordação, afinal, tanto eu como o Fernando éramos os “estreantes” nesta prova e em provas de Trail Running.

Findos os preparativos fomos para o pavilhão confraternizar com os outros atletas e posicionar-nos na zona de partida. O ambiente era de relativa descontracção, companheirismo e alguma ansiedade.

Os primeiros Kms foram a atravessar a aldeia de Pedrógão em direcção à Serra, sempre debaixo de chuva. O piso estava totalmente enlameado (em algumas zonas extremamente perigoso) e havia muitas pedras e calhaus soltos. Os pés facilmente afundavam na lama e escorregavam, por isso estive sempre alerta e abrandei o passo para não acontecer nenhuma intempérie. Em algumas zonas era praticamente impossível correr pelo tipo de terreno e pela quantidade de lama. A chuva nunca abrandou desde que iniciamos a prova, e a dada altura (aproximadamente Km 5) intensificou. Ao Km 6 encontrámos o primeiro abastecimento, onde comi uma fatia pequena de melancia que me soube muito bem. Sem grandes demoras, sigo com o Pedro e o Fernando em direcção à Serra. A aproximar-nos do Km 9 vejo a imponente Serra d`Aire.

clip_image010Até então a subida era pouco acentuada. Porém, a partir do Km 10 começaríamos uma subida de aproximadamente 5 Kms.

A inclinação do primeiro Km era “quase a pique”. A juntar a este facto, o piso estava totalmente enlameado e como tal, era necessário subir com muito cuidado pois os ténis escorregavam. Subimos “em fila indiana” apoiando pés e mãos nas rochas/pedras.

O segundo abastecimento encontrava-se ao Km 11,1 e a paisagem era de névoa pura. O abastecimento era composto por fruta (pedaços de melancia e banana), copos de água e copos de bebida isotónica.

Enquanto nos abastecíamos de fruta, aparece a Analice que fica radiante por “encontrar alguém dos trilhos” (expressão utilizada pela própria).

Em breves minutos hidratamo-nos, comemos uma peça de fruta e seguimos o caminho. Descemos umas escadas de madeira e seguimos na direcção da placa do Trail longo (é neste ponto que o trail longo e o mini trail se separam).

Ao olhar para trás vemos a Analice confusa com as indicações. O Pedro informa-a que deve seguir-nos e da mesma forma que aparece, desaparece á nossa frente no meio da vegetação. Estávamos a reiniciar a subida quando uma atleta surge a nossa frente a dizer que ia desistir e seguir pelo caminho do mini Trail pois receava a dureza da prova. Com poucas palavras (mas eficazes) convencemo-la a continuar e o que necessitasse estaríamos ali. E assim foi. Em breve também ela desapareceria no meio da vegetação (voltamos a cruzar-nos ao Km 26 e ela agradeceu a força que lhe demos para continuar).

Continuámos a subida. Nesta altura reparo que já não chove. O ar era fresco, mas “abafado” pela densidade da vegetação. A subida era aquilo que tinha ouvido dizer “interminável e extremamente íngreme”.

Caminhamos por cima de pedregulhos durante aproximadamente 4 Kms. Quanto mais subíamos mais “claro” se tornava o dia. Antes de chegarmos às antenas “atravessámos” um túnel de vegetação densa, algo que me fez recordar os trilhos da Serra da Estrela. Este foi um dos pontos do percurso que mais gostei. Sentia-me “em harmonia” com a natureza e o apoio e espírito de entre ajuda estiveram presentes ao longo da prova graças a presença do Pedro. Um casal de atletas seguia paulatinamente atrás de nós, umas vezes à frente, outras vezes atrás.

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Subida acentuada num túnel de vegetação densa

Como tudo o que sobe, desce…após esta magnificente subida, vejo um enorme estradão cheio de pedras. Já tinha ouvido falar desta descida, mas apenas “in loco” se consegue perceber a veracidade dos comentários.

Em algumas zonas era possível correr, outras não. A descida era de sensivelmente 4 Kms e o piso era marcado por muitos pedregulhos e irregularidades.

Inicialmente descemos com muito cuidado, exigindo imenso esforço dos joelhos e extrema concentração aonde se colocavam os pés, a fim de, evitar entorses. A meio da descida as irregularidades eram menores e foi possível recuperar algum tempo, “deslizando” por cima das pedras.

Perto do abastecimento dos 21 Kms torço o pé direito (exactamente da mesma forma que o torci dois meses antes) e oiço um enorme estalo. O pé torceu para fora mas voltou ao sítio. Senti uma pequena dor e pensei “está tudo lixado e ainda me faltam 10 Kms”. Mas incrivelmente não aconteceu nada. Parei no abastecimento, verifiquei se estava tudo bem, pulei, não havia dor…por isso…”move on”.

Neste abastecimento cruzámo-nos com o casal de atletas que “nos seguiam” e encontrámos outros dois atletas que seguiam um pouco à nossa frente. Não éramos os últimos, mas éramos dos últimos. A boa disposição e simpatia reinava entre atletas e membros da organização/voluntários dos postos de abastecimento.

Retomámos a marcha e subimos cerca de 2,5 km num trilho largo de pedras até chegar à última descida. A longa descida do Km 22 foi para mim o ponto alto deste Trail.

Um single track fabuloso, com diferentes tipos de vegetação e uma palete de cores estonteante. A vegetação cerrada envolvia-nos e guiava-nos. Uma descida que se prolongava por várias centenas de metros onde haviam muitas pedras (algumas soltas). Em condições normais seria perfeito para “voar” tipo Lara Croft, porém, nos kms iniciais a lama fazia-nos deslizar e por isso tivemos de descer com um pouco mais de cuidado e atenção. Ora apoiava os pés nas pedras, ora me agarrava às árvores.

A partir do Km 24 o piso já era duro e seco e foi possível “voar” mais facilmente “encaixando” sempre os pés com segurança. Foi nesta descida que senti “um pico de adrenalina” percorrer o meu corpo. Os olhos focavam o chão, os pés deslizavam sobre as pedras, a concentração era máxima, e o corpo rodopiava no ar.

clip_image016No final desta descida encontramos a atleta que tínhamos convencido a não desistir, a tirar fotos a um grupo de atletas. Ouvimo-la agradecer-nos e “a grande velocidade” atravessamos a Cova do Morto rumo ao último abastecimento em prova (Km 26).

Nesta altura sinto que o meu corpo requer algum alimento/nutriente em específico, mas como não consigo identificar qual é, opto por me hidratar apenas.

A pedreira que atravessámos nos últimos 3 Kms de prova foi, para mim, o mais difícil. Primeiro porque desde o Km 25 sentia alguma indisposição, e segundo, porque o sol começou a abrir com alguma intensidade e nesta zona em particular “criava um efeito de estufa”.

Ao aproximar da vila o corpo não conseguia aumentar o ritmo de corrida, pelo contrário, sentia que aqueles quilómetros pesavam a cada passo que dava. Nem a última descida já a vislumbrar a torre da igreja me conseguiu “despertar”. Ao virar em direcção à CESA, um grupo de jovens, membros da organização, brindam-nos com o “força”, “está quase”. Vejo o insuflável vermelho ao fundo. A cabeça dizia “está quase”, as pernas continuavam firmes, mas a falta de “algo” não permitia mais.

A poucos metros da meta o Rui Faria vê-nos e incentiva-nos, e talvez, motivada por “esta frescura” consigo fazer um mini sprint. Soube terrivelmente bem descobrir que afinal ainda tinha uma reserva pequena de força para aqueles metros. Atravessei a meta com um sorriso enorme, com um ar de frescura como se não tivesse percorrido 30 Kms, com o sentimento de dever cumprido, de realização pós-recuperação e ao lado do meu grande apoio que me prometeu desde início ter um objetivo apenas: “levar-me a terminar a prova”.

Da prova tenho de comentar a visibilidade das marcações, a existência de 6 abastecimentos (cada 5-6 kms), a simpatia dos atletas e dos voluntários, bem como, da organização. De referir que nos abastecimentos havia água e fruta suficiente porém considero que a partir do Km 15 deveria haver outro tipo de alimentos mais energéticos para os atletas. Haviam umas barras de cereais apenas no Km 26.

Em jeito de conclusão e reflexão, a Serra d`Aire é linda, árida, com uma vegetação densa, caracterizada pela dureza dos seus caminhos, carregadinhos de pedra e calhau. Terminei a prova numa lástima…ou seja, ténis e parte de trás das pernas com lama…mas trail running é isto mesmo.

De forma muito simples e ingénua pois sou uma novata nestas andanças, é este o meu apontamento. O meu objetivo no Trail do Almonda era chegar ao fim sem lesões. E cheguei ao fim sim, acompanhada pelo Pedro Cordas, sem lesões significativas e feliz por esta superação física/recuperação de saúde.

Os sentimentos que envolvem esta prova ainda estão muito em bruto. Foi uma experiencia única a vários níveis e que deixará marcas intensas na minha carreira de “Trail Runner”. Um dia depois sinto-me fresca, sem sinais de cansaço, sem dores, sem unhas pretas nem bolhas, e pronta para mais. O corpo não acusa os quilómetros, pelo contrário, “integrou” esta aventura como se de um passeio apenas se tratasse.

Dorsal

Nome do Atleta

Tempo

Geral

Escalão

374

Armando Lima

03:54:25

231

214/276

375

Fernando Sousa

04:53:38

301

268/276

373

Paulo Caetano

04:57:04

303

269/276

377

Filipa Vilar

05:14:08

310

36/39

376

Pedro Cordas

05:14:13

311

274/276

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