domingo, 3 de março de 2013

III Trilhos dos Abutres 2013


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Dia 26 de Janeiro de 2013, o dia marcado para os III Trilhos dos Abutres, uma das referências do Trail Running nacional.
imageChegámos às 08h00 da manhã a Miranda do Corvo. Eu, a Paula Batalha, a Vanda Rosa, o Óscar Marques, o Paulo Fiúza e o Jorge Soares, animados pela prespetiva de irmos correr os 23 kms do Trilho dos Abutres, que é conhecido por ser uma das mais duras e exigentes provas de trail a nível nacional, situação agravada pelo facto de na semana que antecedeu a prova, Portugal ter sido fustigado por ventos e chuvas fortes, como não se via à muitos anos.

No caminho de Lisboa a Miranda do Corvo, fomos sempre presenteados com uma chuva que não sendo forte se manteve constante, o que nos levou a pensar que iríamos ter uma prova molhada...não podiamos estar mais enganados, pois as condições meteorologicas mudaram totalmente, ficando uma temperatura perfeita para a corrida, sem vento e sem chuva.
Antes de nós, partiram os atletas para o Ultra Trail de 43kms, onde constavam diversos colegas do Millennium. Cerca das 09h00, foi dada a partida para o Trilho dos Abutres, 23 kms de pura adrenalina. O trilho começou com uma subida grande por um carreiro estreito, onde não cabiam mais de três atletas lado a lado. Ali fomos durante uns 800 metros, a passo de caracol. Tudo bem. Nada de especial. Mais uma subida, agora em terreno aberto, e lá comecamos a correr a sério. Uma descida, um pouco de estrada, e finalmente os trilhos. Com uns 3 km percorridos, a prova entrou no que chamo de fase de escalada. Trepar rochas agarrado a árvores, subir montanha de gatas, agarrado a pedras, raizes, colocando os pés em sítios firmes para não vir por ali abaixo. Sem exagero, andámos uns 60 minutos naquilo. Escusado será dizer que percorri apenas uns 2 ou 3 km. Pelo meio, o percurso passava por pontes de madeiras feitas com um tronco, as quais só podiam ser passadas se nos segurássemos a cordas, houve vários momentos em que passámos o riacho com água pelos joelhos, galgámos rios de lama, e depois mais rochas para trepar. Tudo, sempre, sempre a subir. Pelo meio, era sempre possível parar e olhar para aquelas paisagens deslumbrantes, com quedas de água, o rio a passar, as
margens a fazer lembrar os cenários de "O Senhor dos Anéis", um Portugal que quase ninguém conhece, e que deveria ser obrigado a conhecer.
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Escalada com auxílio de correntes;em outros locais estavam instaladas cordas para o mesmo efeito Fomos obrigados a fazer partes do percurso a andar, sobretudo nas inclinadíssimas subidas, por terrenos instáveis e, muitas vezes, perigosos. Os meus ténis a precisar de reforma, escorregavam demasiado na rocha molhada, por isso, tive de ter o máximo de cuidado. Ainda caí uma ou duas vezes, sobretudo a descer, mas felizmente não me aleijei. Passamos pelo Parque Eólico de Vila Nova 900 mts de altitude, com visão dos enormes aerogeradores, que no meio do nevoeiro, pareciam os moinhos de vento de “Dom Quixote” de Cervantes. Estamos no estradão alto do parque Eólico. Descemos por um trilho que corta a encosta para depois entrarmos numa das recentes criadas pistas de Downhill. Já se vê o Gondramaz quando começamos a entrar num vale encaixado. As pedras escondidas nas folhas tornam esta parte do percurso bastante técnico. Chegamos a ribeira. Agora é serpentear a ribeira por trilhos técnicos até chegarmos ao sopé do Penedo dos Corvos.
Inicio da subida do Penedo dos Corvos.
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Subida intensa. Aproximação a aldeia do Gondramaz. O abastecimento está a vista. Aproveite e desfrute a arquitetura bem conseguida e reservada desta aldeia. Era lá que nos esperava um petisco, com tostas com mel e marmelada, laranjas, bananas, frutos secos, bebidas energéticas e chá quente. Não estivemos muito tempo parados. Lá comemos qualquer coisa e fizemos-nos novamente ao trilho. Começou uma enorme descida, que se revelou tão complicada como a subida. Grande parte foi feita a tentar arranjar forma de não cair por ali abaixo, sempre a saltar obstáculos, agarrado a cordas, a troncos, passando pontes, atravessando por dentro de riachos, correndo pelo meio dos caminhantes que nos iam dando força.
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Foi durante esse percurso, que me afastei dos meus companheiros de corrida (Paula,Vanda,Oscar,Paulo Fiúza e Jorge Soares), pois tinha recebido um telefonema da minha irmã, dando indicação que tanto ela como o meu pai, estavam em Miranda do Corvo para me receberem. Estava um pouco arrasado quando cheguei ao ponto mais baixo da prova. Nessa altura, passava por algumas pessoas que me diziam "vai, está quase". Passei pelo último abastecimento e um dos voluntários lá me disse: "Faltam uns 5 ou 6 km". Não quis acreditar. Mas era verdade. O percurso era agora plano, e aproveitei para dar tudo o que tinha. Comecei a correr o mais depressa que pude, no limite das forças.
image O percurso chegou a uma zona em que um carreiro de água o dividia ao meio e nos obrigava a saltar constantemente de um lado para o outro. Cheguei a Miranda do Corvo, e ainda tive de fazer mais 1,5 km até à meta, com uma subida de morte pelo meio (aqui, tive de segurar os músculos das pernas, porque achei mesmo que se iriam desmontar).
Pouco tempo depois de eu cruzar a meta, chegaram os restantes elementos...menos o Paulo Fiúza, que entretanto tinha sido levado para o Hospital de Coimbra, vitima de uma queda violenta. Para ele, uma palavra de todos nós...FORÇA e volta depressa para que continuemos a percorrer os trilhos.
Uma das muitas cascatas por onde passava o trilho
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Tinha escrito, aquando da prova na Lousã, que essa tinha sido a prova mais bonita que tinha efetuado até à data, mas tenho que dizer que esse título passou a ser dos Trilhos dos Abutres...simplesmente espetacular ! Até para o ano.
Paulo Pinto

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